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Foi xingado ou ameaçado em blog? Saiba o que fazer
Se comentários passarem dos limites, blogueiros podem entrar na Justiça. Falsa sensação de anonimato gera xingamentos e até ameaças.
G1 - 12/02/2009

<div align="justify">O dono do terceiro blog mais lido do mundo cansou. Depois de tr&ecirc;s anos escrevendo sobre novas empresas e servi&ccedil;os de tecnologia, uma amea&ccedil;a de morte e uma cuspida na cara, Michael Arrington, co-fundador do TechCrunch, decidiu dar um tempo do site.</div> <div align="justify"> <p>&ldquo;Escrevemos sobre tecnologia e empreendedorismo. S&atilde;o coisas importantes, mas n&atilde;o t&atilde;o importantes para nos fazerem temer pela nossa seguran&ccedil;a e a de nossas fam&iacute;lias&rdquo;, afirmou o blogueiro em nome de todos os contribuintes da p&aacute;gina. Apesar de seu afastamento, o TechCrunch continuar&aacute; sendo atualizado.</p> <p>O fato de algu&eacute;m desistir da blogosfera depois de chegar ao topo do Technorati, um site com a lista dos blogs mais acessados, indica que a press&atilde;o para quem est&aacute; l&aacute; em cima n&atilde;o &eacute; pouca. E, como mostra o desabafo de Arrington, ela vem principalmente dos leitores: pessoas que muitas vezes n&atilde;o economizam na agressividade e apelam at&eacute; para amea&ccedil;as quando discordam do blogueiro - esteja ele envolvido com temas pol&ecirc;micos ou com amenidades.</p> </div> <div align="justify"> <p>Arrington afirmou ter se tornado alvo de empresas iniciantes que n&atilde;o recebem a aten&ccedil;&atilde;o desejada, al&eacute;m de jornalistas e blogueiros concorrentes que acusam o TechCrunch &ldquo;das coisas mais rid&iacute;culas&rdquo;.</p> <p>&ldquo;Responder a essas acusa&ccedil;&otilde;es n&atilde;o vale nosso tempo: sempre achei que nosso trabalho e integridade iriam dar a resposta para tudo isso. Mas conforme crescemos e conquistamos mais sucesso, os ataques tamb&eacute;m cresceram&rdquo;, contou.</p> </div> <div align="justify"> <p>No in&iacute;cio de fevereiro, o autor de novelas Aguinaldo Silva fez um desabafo nesse mesmo tom em seu blog. &ldquo;Dou aqui o meu melhor. Procuro n&atilde;o apenas agradar a quem me l&ecirc;, mas dar informa&ccedil;&otilde;es, provocar debates, fazer pensar. E o meu modo de pensar, limpo e cristalino, est&aacute; exposto aqui. Em troca dessa exposi&ccedil;&atilde;o, dessa sinceridade toda, o que recebo? Chutes na bunda. Agress&otilde;es as mais deslavadas, e o que &eacute; pior: de pessoas que nem sequer existem! Pois em geral, todos os que entram aqui com prop&oacute;sitos delet&eacute;rios tratam antes de resguardar com o maior cuidado suas identidades: s&atilde;o todas falsas.&rdquo;</p> <p>No post, o autor de &quot;Roque Santeiro&quot;, &quot;Vale Tudo&quot; e &quot;Duas Caras&quot; afirma ter questionado se valia a pena manter a p&aacute;gina, recebendo resposta negativa de seus amigos. Depois, ele concluiu: &ldquo;vou desistir do blog? Pra deixar esse bando de z&eacute; ruelas feliz da vida? Mas nem morto!&rdquo;&nbsp;</p> </div> <div align="justify"><strong>Ciberbullying </strong></div> <div align="justify"> <p>Erick Itakura, pesquisador do N&uacute;cleo de Pesquisa da Psicologia em Inform&aacute;tica da Pontif&iacute;cia Universidade Cat&oacute;lica (PUC), classifica a agress&atilde;o na blogosfera como um tipo de ciberbullying - o termo define um comportamento agressivo e repetitivo adotado contra algu&eacute;m no universo virtual, mesmo sem motiva&ccedil;&atilde;o aparente.</p> <p>&ldquo;O blogueiro exerce o direito dele de liberdade de express&atilde;o. Mas muitos leitores se incomodam e acabam querendo impor outras verdades&rdquo;, afirmou o especialista, lembrando que a sensa&ccedil;&atilde;o de anonimato existente na internet facilita esse tipo de a&ccedil;&atilde;o.</p> </div> <div align="justify"> <p>Segundo Itakura, as rea&ccedil;&otilde;es extremas na blogosfera acontecem quando algu&eacute;m tem dificuldades em lidar com os sentimentos provocados pelo conte&uacute;do postado - seja ele raiva, frustra&ccedil;&atilde;o, inveja ou admira&ccedil;&atilde;o. &ldquo;A agress&atilde;o mostra que, de alguma forma, as informa&ccedil;&otilde;es tocaram a pessoa e ela n&atilde;o soube lidar com isso. &Agrave;s vezes &eacute; mais f&aacute;cil o leitor enxergar um defeito no blogueiro, que se exp&otilde;e, do que nele mesmo.&rdquo;&nbsp;</p> <p>Rosana Hermann, 51, passou por uma situa&ccedil;&atilde;o parecida com a relatada pelo co-fundador do TechCrunch. Hoje dona do Querido Leitor, ela j&aacute; chegou a fechar um blog e sair do pa&iacute;s com a fam&iacute;lia, depois de receber uma amea&ccedil;a no estilo &ldquo;sei onde seus filhos estudam&rdquo;.</p> </div> <div align="justify"> <p>Em outra ocasi&atilde;o, pagou um advogado at&eacute; conseguir quebrar na Justi&ccedil;a o sigilo de um leitor definido por ela como &ldquo;o cl&aacute;ssico covarde na vida real, que se torna o bam-bam-bam atrevido sob o manto do anonimato&rdquo;.</p> <p>No segundo caso, ap&oacute;s quebra de sigilo, ela acabou conversando com esse leitor pelo telefone - ao identificar seu perfil, Rosana acabou desistindo do processo. O homem tinha 42 anos, era um administrador de empresas desempregado, morava com os pais, era separado e justificou os meses de persegui&ccedil;&atilde;o &agrave; blogueira dizendo que queria ser como ela.</p> </div> <div align="justify"> <p>Depois de quase dez anos na blogosfera, Rosana diz que sua rea&ccedil;&atilde;o &agrave; agress&atilde;o dos leitores depende de seu estado de esp&iacute;rito. &ldquo;Quando vejo que a pessoa realmente s&oacute; quer aten&ccedil;&atilde;o, ignoro. Quando acho que existe alguma chance de traz&ecirc;-la para a &lsquo;luz&rsquo;, comento no blog. Mas a&iacute; os outros leitores reclamam, dizendo que s&oacute; dou aten&ccedil;&atilde;o para quem me ofende&rdquo;, contou em entrevista ao G1.</p> <p>Se o coment&aacute;rio feito pelo internauta for mais &ldquo;pesado, patol&oacute;gico ou perigoso&rdquo;, ela o repassa a seu advogado, para que ele tome medidas legais.&nbsp;</p> </div> <div align="justify"> <p>O advogado Marcel Leonardi, especialista em direito digital, n&atilde;o v&ecirc; problemas quando as cr&iacute;ticas feitas em um blog s&atilde;o dirigidas ao conte&uacute;do postado, e n&atilde;o &agrave; pessoa - nestes casos, eles diz que o debate &eacute; v&aacute;lido e est&aacute; dentro dos limites da liberdade de manifesta&ccedil;&atilde;o de pensamento. No entanto, quando o leitor passa a ofender o blogueiro pessoalmente e vice-versa, pode-se cogitar os crimes de cal&uacute;nia, inj&uacute;ria ou difama&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Se isso acontecer e o blogueiro quiser entrar com uma a&ccedil;&atilde;o judicial, Leonardi aconselha a n&atilde;o apagar o coment&aacute;rio. A informa&ccedil;&atilde;o preservada permite descobrir, com aux&iacute;lio da Justi&ccedil;a, o endere&ccedil;o IP de quem publicou o texto. Assim, &eacute; poss&iacute;vel identificar o respons&aacute;vel pela ofensa e tomar as medidas cab&iacute;veis.</p> </div> <div align="justify"><strong>Opini&atilde;o </strong></div> <div align="justify"> <p>O jornalista Vitor Birner, 40, diz ser diariamente agredido nos coment&aacute;rios postados no Blog do Birner, uma p&aacute;gina para f&atilde;s de futebol. &ldquo;H&aacute; v&aacute;rias formar de agress&atilde;o. O leitor mente a meu respeito, diz que falei o que n&atilde;o falei, fiz o que n&atilde;o fiz, penso o que n&atilde;o penso. E eu aprovo os coment&aacute;rios na gigantesca maiorias das vezes, por achar que as pessoas devem mostrar quem s&atilde;o&rdquo;, contou ao G1. Segundo ele, tamb&eacute;m h&aacute; muitas coloca&ccedil;&otilde;es interessantes, de pessoas inteligentes em sua p&aacute;gina. &ldquo;O blog &eacute; um local de informa&ccedil;&atilde;o e opini&atilde;o. Ter de tudo faz parte.&rdquo;</p> <p>No mesmo endere&ccedil;o virtual desde 2007, Birner geralmente releva as agress&otilde;es. No entanto, confessa que vez ou outra tem &ldquo;seus dias&rdquo; e responde &agrave;s provoca&ccedil;&otilde;es deixadas na p&aacute;gina. &ldquo;Quando dizem que manipulo as informa&ccedil;&otilde;es, recomendo que n&atilde;o voltem ao meu blog. Se n&atilde;o acreditam no que escrevo, n&atilde;o devem perder seu tempo precioso de vida comigo.&rdquo;</p> </div> <div align="justify"> <p>A estrat&eacute;gia de Ren&ecirc; Fraga, 25 anos, &eacute; tentar entender os leitores do Google Discovery - mesmo aqueles mais agressivos. Ele diz sempre tentar oferecer um espa&ccedil;o para que o usu&aacute;rio da p&aacute;gina expresse suas id&eacute;ias.</p> <p>&ldquo;O trabalho do blogueiro &eacute; p&uacute;blico e estamos envolvidos com diferentes tipos de pessoas. Por isso, &eacute; sempre importante manter uma conversa&ccedil;&atilde;o entre todos os envolvidos na blogosfera, respeitando suas opini&otilde;es&rdquo;, defende.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Sem coment&aacute;rios</strong></p> <p>J&aacute; o Te Dou Um Dado?, com informa&ccedil;&otilde;es sobre o universo das celebridades, adota a dire&ccedil;&atilde;o oposta. A p&aacute;gina criada por tr&ecirc;s blogueiros em abril de 2007 era aberta para coment&aacute;rios, mas com o tempo eles foram fechados. &ldquo;Como a voz do povo definitivamente n&atilde;o &eacute; a voz de Deus, acabamos com essa hist&oacute;ria&rdquo;, contou Ana Paula Barbi, a Polly, uma das criadoras do site.</p> </div> <div align="justify"> <p>A falta de espa&ccedil;o para coment&aacute;rios n&atilde;o impede, no entanto, que pessoas dispostas a agredir mandem e-mails para os blogueiros, muitas vezes com endere&ccedil;os falsos. &ldquo;Quando ficaram sabendo que sofri uma parada respirat&oacute;ria, choveram mensagens. Mas o n&uacute;mero de e-mails desejando melhoras foi infinitamente maior do que os xingando e celebrando minha quase-morte.&rdquo;</p> <p>Polly garante nunca se ofender com esse tipo de agress&atilde;o, alegando que as pessoas n&atilde;o sabem xingar direito. &ldquo;Elas n&atilde;o s&atilde;o criativas. &Eacute; sempre aquela hist&oacute;ria de &lsquo;voc&ecirc; &eacute; gorda&rsquo;. Poxa, jura? Valeu o toque, nunca tinha reparado&rdquo;, ironizou a blogueira. &ldquo;Grande parte desse recalque vem de uma vontade enorme de ser igual a n&oacute;s. A pessoa queria muito ter um blog legal, mas n&atilde;o consegue e ent&atilde;o apela para a agress&atilde;o&rdquo;, continuou, ecoando a explica&ccedil;&atilde;o do psic&oacute;logo Erick Itakura.</p> </div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div>
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