Geral
Eleições 2008
Cidade do interior paulista tem 10 candidatos a vereador do Piauí
Serrana, por causa das usinas de açucar recebe há décadas muitos migrantes nordestinos, que compõem mais de 60% dos 28 mil eleitores
Valor Econômico - 30/09/2008

<div align="justify">A edi&ccedil;&atilde;o do Valor Enon&ocirc;mico de ontem, 29/09 mostra a for&ccedil;a do voto migrante na elei&ccedil;&atilde;o da cidade de Serrana, pr&oacute;xima a Ribeir&atilde;o Preto. Serrana, por causa das usinas de a&ccedil;ucar recebe h&aacute; d&eacute;cadas muitos migrantes nordestinos, que comp&otilde;em mais de 60% dos 28 mil eleitores. Nos &uacute;ltimos anos, chegaram tamb&eacute;m mineiros do Vale do Jequitinhonha. Com isso, a pol&iacute;tica municipal ganhou novo tom. &quot;S&atilde;o os migrantes que elegem todo mundo aqui&quot;, diz o ex-prefeito Luiz Paturi (PMDB), que concorre a uma vaga na C&acirc;mara Municipal, que hoje tem quatro migrantes, tr&ecirc;s deles do Norte de Minas e um do Piau&iacute;.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">A superioridade num&eacute;rica dos &quot;de fora&quot; em compara&ccedil;&atilde;o com os &quot;de dentro&quot; &eacute; um sinal da for&ccedil;a do voto migrante. Neste ano, 31 dos 145 candidatos vieram de outros Estados. &quot;O dia que descobrirem a for&ccedil;a que t&ecirc;m, elegem um deles a prefeito&quot;, diz Nelson Cavalheiro, candidato do PT e autor da &uacute;nica proposta espec&iacute;fica para o eleitor majorit&aacute;rio da cidade: uma feira permanente de seus produtos.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">A estudante pede aos passageiros que comprem rifas para os formandos do col&eacute;gio estadual &quot;Jardim das Rosas&quot;. A manicure vende creminhos de embelezamento da Avon. O motorista &eacute; alertado para n&atilde;o esperar pela Neusa porque &quot;Seu Barbosa morreu&quot;. O jovem sofre uma queda de press&atilde;o, pois tomara apenas uma x&iacute;cara de caf&eacute; pela manh&atilde;. Basta, por&eacute;m, esperar alguns minutos para que as elei&ccedil;&otilde;es de domingo sejam o assunto principal na van que no dia que inaugura a primavera parte para a curta viagem de Serrana a Ribeir&atilde;o Preto. Nela se acomodam vinte e seis pessoas, a maioria mulheres, que diariamente viajam os vinte quil&ocirc;metros da rodovia que separam as duas cidades em meio a paisagem canavieira que cada vez mais marca o nordeste paulista.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">O fluxo di&aacute;rio de pessoas que esta e outras dezenas de vans realizam &eacute; considerada relevante arma pol&iacute;tica pelos postulantes a cargos p&uacute;blicos em Serrana, que pagam em m&eacute;dia R$ 20 a alguns cabos eleitorais para direcionarem as conversas a seu favor ou, sendo um dia em que a pol&iacute;tica ainda n&atilde;o despertou o interesse dos passageiros, tomarem a iniciativa do assunto. A op&ccedil;&atilde;o pelas vans tamb&eacute;m revela outra face na disputa pelos votos locais. S&atilde;o nelas que se concentram boa parte dos migrantes nordestinos e seus descendentes que comp&otilde;em os mais de 60% dos seus 38 mil habitantes e 28 mil eleitores de Serrana.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Com duas antigas usinas sucroalcoleiras, Pedra e Nova Uni&atilde;o, Serrana assiste dos anos 70 para c&aacute; uma transforma&ccedil;&atilde;o demogr&aacute;fica pela presen&ccedil;a migrante com grandes efeitos no seu quadro pol&iacute;tico-eleitoral. Comp&otilde;em a cena pol&iacute;tica local um cl&atilde; de pol&iacute;ticos descendentes de migrantes, a entrada de mineiros do carente Vale do Jequitinhonha atra&iacute;dos por promessas eleitorais e a transfer&ecirc;ncia de t&iacute;tulos eleitorais &agrave;s v&eacute;speras da data limite em troca de trabalho e alugu&eacute;is. S&atilde;o campanhas com viradas eleitorais de &uacute;ltima hora por declara&ccedil;&otilde;es consideradas ofensivas e com chapas em que os migrantes s&atilde;o mantidos como coadjuvantes.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&quot;S&atilde;o os migrantes que elegem todo mundo aqui&quot;, diz o ex-prefeito por dois mandatos e atual candidato a vereador Luiz Paturi (PMDB). Jaqueta do Santos nas costas, auto-intitulado &quot;macaco velho da pol&iacute;tica&quot; e &quot;botequeiro&quot;- &quot;gosto de fazer campanha no bar&quot;- tem, em frente &agrave; sede do &uacute;nico ve&iacute;culo de comunica&ccedil;&atilde;o da cidade, a r&aacute;dio &quot;A Voz de Serrana&quot;, da qual &eacute; dono, uma esp&eacute;cie de comit&ecirc; eleitoral por onde circulam seus eleitores: o simples bar Serra Azul. Nos vinte minutos de conversa, pelo menos tr&ecirc;s deles, com a cara vermelha e inchada do etanol n&atilde;o-combust&iacute;vel que consumiram, pedem-lhe mais uma dose. &quot;Pega l&aacute; dentro, pega l&aacute;&quot;, diz.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Paturi &eacute; apontado pelos moradores como o grande incentivador da migra&ccedil;&atilde;o mineira na cidade, principalmente os que v&ecirc;m de Montalv&acirc;nia, no norte de Minas, divisa com a Bahia. Foi a partir de sua primeira elei&ccedil;&atilde;o para prefeito em 1988 que o fluxo do Jequitinhonha se intensificou na cidade, atra&iacute;dos com garantia de emprego e terrenos, segundo os moradores. Ele n&atilde;o confirma nem nega. Copo de cerveja &agrave; m&atilde;o, desconversa.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">O santista disputar&aacute; umas das nove vagas da C&acirc;mara, atualmente composta por quatro migrantes, tr&ecirc;s deles do Norte de Minas e um do Piau&iacute;. Todos vivem na cidade h&aacute; anos e comp&otilde;em o grupo de migrantes j&aacute; fixados na cidade, em contraposi&ccedil;&atilde;o aos migrantes que moram na cidade na safra de cana, entre maio e novembro, e os serranenses &quot;natos&quot;, descendentes de imigrantes italianos, espanh&oacute;is e portugueses.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">A equipara&ccedil;&atilde;o num&eacute;rica na C&acirc;mara dos Vereadores dos &quot;de fora&quot; em compara&ccedil;&atilde;o com os &quot;de dentro&quot; &eacute; um sinal da for&ccedil;a do voto migrante, j&aacute; que suas candidaturas costumam ser minorit&aacute;rias. Neste ano, pelo menos 31 dos 145 candidatos s&atilde;o de fora, sendo a maior parte do Piau&iacute; (10) e do norte de Minas (15). A contabilidade deve ser maior, j&aacute; que n&atilde;o incluiu os filhos de migrantes nascidos na cidade.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">E n&atilde;o &eacute; s&oacute; o fato de disputarem o mesmo p&uacute;blico que torna a campanha mais acirrada. As caracter&iacute;sticas do eleitor migrante, apontado pelos candidatos como assistencialistas, acabam influenciando no modo de se fazer a pol&iacute;tica local. Nascido em S&atilde;o Raimundo Nonato, localizada no semi-&aacute;rido piauiense e at&eacute; hoje o principal ponto emissor de moradores para Serrana, o vereador Dewilson dos Reis (PV), o popular De&uacute;, analisa essas caracter&iacute;sticas. &quot;&Eacute; um eleitor que gosta de ser ajudado pessoalmente. Pede passagem, habilita&ccedil;&atilde;o, g&aacute;s, pede tudo. At&eacute; quem n&atilde;o precisa pede. Eles s&atilde;o caros, car&iacute;ssimos&quot;, diz ele, que calcula ter sido eleito em 2004 com 90% do voto nordestino, mas que esse apoio deve ter ca&iacute;do para 20%. Outro desses vereadores tamb&eacute;m reclama: &quot;Eles buscam s&oacute; isso: assistencialismo. Saco de cimento, consertos. Isso vem do pr&oacute;prio Lula, que ensinou eles a se contentar com pouco&quot;, diz o vereador Nelson Ferreira (PPS), natural de Maril&acirc;ndia (MG), e morador local desde 1972.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Apesar das cr&iacute;ticas, as campanhas dos principais candidatos a vereador se faz, de alguma maneira, por meio de ajudas e presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os a esse p&uacute;blico. De&uacute; participa de um mutir&atilde;o de pedreiros que constr&oacute;i pequenas casas para a popula&ccedil;&atilde;o carente. Jovem (DEM) &eacute; eletricista e presta servi&ccedil;os gratuitos a quem o pede. Jos&eacute; Augusto (PPS) &eacute; ligado ao sindicato dos trabalhadores rurais. Muitos eleitores acabam transferindo o t&iacute;tulo eleitoral mediante servi&ccedil;os como esses ou outras promessas. Neste ano, at&eacute; a data limite para a mudan&ccedil;a de domic&iacute;lio eleitoral, 755 eleitores fizeram a altera&ccedil;&atilde;o, sendo 146 do Piau&iacute;, 129 de Minas Gerais, 56 da Bahia, 29 de Pernambuco.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Embora nesta &eacute;poca haja a preocupa&ccedil;&atilde;o com os votos, o debate sobre migrantes passa ao largo da C&acirc;mara em anos n&atilde;o-eleitorais: nem eles freq&uuml;entam as sess&otilde;es da Casa, nem h&aacute; projetos espec&iacute;ficos a eles destinados. Isso tamb&eacute;m ocorre com as candidaturas a prefeito, onde o tema migra&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; tratado de forma direta. Ocorre apenas residualmente, nas abordagens feitas sobre a satura&ccedil;&atilde;o da rede municipal de sa&uacute;de e o baixo desempenho escolar nas avalia&ccedil;&otilde;es do Minist&eacute;rio da Educa&ccedil;&atilde;o. A principal causa apontada para isso &eacute; a migra&ccedil;&atilde;o sazonal de cerca de 10 mil trabalhadores da cana, uma vez que muitos parentes de migrantes v&ecirc;m ao munic&iacute;pio t&atilde;o somente para utilizar os servi&ccedil;os de sa&uacute;de, piores em seus Estados de origem, e outros tantos v&ecirc;m com filhos para estudar nas escolas municipais, o que pressiona a oferta de servi&ccedil;os p&uacute;blicos.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Valor Econ&ocirc;mico</div>
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