Perfil
PERFIL
Dr. Clayton Barros fala sobre doenças infecciosas e desmitifica tabus da Gripe A
O médico infectologista é responsável pelas doenças infecciosas em geral, desde DSTs, meningites, hepatites até o controle de infecções hospitalares
Lana Krisna - 07/08/2009

<p align="justify"><strong>Qual o papel do m&eacute;dico infectologista?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Ele &eacute; o m&eacute;dico respons&aacute;vel pelas doen&ccedil;as infecciosas em geral, ou seja, todas as infec&ccedil;&otilde;es nas determinadas &aacute;reas ele &eacute; respons&aacute;vel, al&eacute;m disso, pelas vacinas e pelo controle de infec&ccedil;&atilde;o hospitalar.</p> <p align="justify"><strong>O infectologista tamb&eacute;m atua no campo de tratamento que combate a Influenza A, como o senhor avalia a atual situa&ccedil;&atilde;o do Brasil e do estado do Piau&iacute;?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> O Brasil, principalmente as regi&otilde;es Sul e Sudeste encontram-se numa situa&ccedil;&atilde;o bem mais complicada que a do Nordeste. O Piau&iacute; tem alguns casos confirmados, mas em pouca quantidade ainda. De uma forma geral existe uma tend&ecirc;ncia de essa gripe avan&ccedil;ar, principalmente no Nordeste.</p> <p align="justify"><strong>As condi&ccedil;&otilde;es clim&aacute;ticas contribuem para essa contamina&ccedil;&atilde;o?</strong></p> <div align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A condi&ccedil;&atilde;o clim&aacute;tica favorece a gripe, inclusive a regi&atilde;o Sul vive o momento do inverno, momento de chuvas, o que influencia o maior n&uacute;mero de casos. No Piau&iacute;, por exemplo, vivemos um momento de ver&atilde;o, assim, as viroses e gripes de forma geral diminuem. Ent&atilde;o a quest&atilde;o clim&aacute;tica influencia, mas n&atilde;o vai definir, j&aacute; que o v&iacute;rus se espalha de pessoa e pessoa independente do clima.</div> <p align="justify"><strong>Quais s&atilde;o os principais cuidados que as pessoas devem ter no que diz respeito &agrave; Gripe A?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Como o v&iacute;rus n&atilde;o surgiu no Piau&iacute;, vem de fora, a primeira quest&atilde;o a se ter em mente &eacute; o cuidado com pessoas que estiveram viajando, se as mesmas n&atilde;o apresentarem nenhum sintoma de gripe, n&atilde;o se faz necess&aacute;rio ter cuidados excessivos. Em geral &eacute; necess&aacute;rio ter cuidados normais, como lavar bem e sempre as m&atilde;os, usar len&ccedil;o descart&aacute;vel ao espirrar, evitar o contato das m&atilde;os com superf&iacute;cies e em seguida com o rosto. Diante do contato com pessoas que apresentam sintomas gripais, &eacute; importante evitar o contato direto, por conta das got&iacute;culas da saliva, da respira&ccedil;&atilde;o e do espirro, e em casos extremos usar m&aacute;scara.</p> <p align="justify"><strong>Existe uma pol&ecirc;mica em torno do uso das m&aacute;scaras, viagens em &ocirc;nibus fechados, em ambientes de contato direto como bancos, escolas e festas, &eacute; preciso usar m&aacute;scara?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Primeiramente as m&aacute;scaras t&ecirc;m um tempo &uacute;til de vida, a tend&ecirc;ncia &eacute; que ela fique umedecida com a saliva e a respira&ccedil;&atilde;o, e nesse momento j&aacute; perde sua utilidade. A m&aacute;scara s&oacute; deve ser usada no contato com pessoas que tiverem realmente uma suspeita, por exemplo, um paciente vai ao hospital com a suspeita de Gripe A, este deve usar a m&aacute;scara, os profissionais que v&atilde;o atend&ecirc;-lo tamb&eacute;m. &Eacute; importante falar que depois do atendimento, o paciente pode ser enviado para casa, onde deve ficar monitorado e em isolamento. O Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de n&atilde;o recomenda a interna&ccedil;&atilde;o de todos os casos. Quando houver a necessidade de interna&ccedil;&atilde;o, o paciente ficar&aacute; usando uma m&aacute;scara e todas as pessoas que forem ter contato com o mesmo devem us&aacute;-las tamb&eacute;m. A quest&atilde;o de todo mundo usar m&aacute;scara n&atilde;o &eacute; recomend&aacute;vel, a recomenda&ccedil;&atilde;o &eacute; usar apenas quando houver o contato com a pessoa contaminada ou com suspeita.</p> <p align="justify"><strong>A dengue j&aacute; &eacute; uma velha conhecida dos brasileiros, mas todos os anos o mosquito retorna e faz muitas v&iacute;timas, quais s&atilde;o os riscos reais de uma dengue?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A dengue assim como a Gripe Su&iacute;na &eacute; uma virose, provocada por um v&iacute;rus transmitido pelo mosquito A&euml;des aegypti. O mosquito transmissor pica qualquer tipo de pessoa, n&atilde;o importando se &eacute; uma &aacute;rea nobre ou de periferia na cidade, o que importa realmente &eacute; saber se popula&ccedil;&atilde;o local est&aacute; atenta aos cuidados como n&atilde;o armazenar &aacute;gua em local impr&oacute;prio, os riscos s&atilde;o todos aqueles que j&aacute; foram bem batidos pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de.</p> <p align="justify"><strong>Qual a diferen&ccedil;a de uma dengue normal para um dengue hemorr&aacute;gica?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A dengue comum &eacute; mais branda sem fen&ocirc;menos hemorr&aacute;gicos. O paciente pode ter hemorragias, e esses sangramentos podem ser mais simples como um sangramento pelo nariz, pela gengiva, no olho ou nas fezes, mas &eacute; a partir do mais simples que este sangramento pode evoluir para um mais grave, o que pode causar a morte do paciente por choque. Diante de muito extravasamento sangu&iacute;neo, interno e externo, ocorre o choque hemorr&aacute;gico, o paciente sofre queda na press&atilde;o diante das conseq&uuml;entes hemorragias. A dengue hemorr&aacute;gica &eacute; uma complica&ccedil;&atilde;o da dengue comum e n&atilde;o um tipo de dengue diferente. &Eacute; o mesmo v&iacute;rus que desenvolve uma doen&ccedil;a mais simples ou mais grave, inclusive na mesma pessoa.</p> <p align="justify"><strong>A meningite gera p&acirc;nico na popula&ccedil;&atilde;o, quais os seus tipos e seq&uuml;elas?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> As meningites t&ecirc;m v&aacute;rias causas, as mais comuns s&atilde;o as virais e as bacterianas, mas existem outras causas como fungos que tamb&eacute;m podem causar meningite, geralmente em pacientes imunodeprimidos que apresentam alguma doen&ccedil;a de base como c&acirc;ncer ou HIV que o faz mais suscet&iacute;vel a adquirir um fungo que pode chegar at&eacute; a medula e gerar meningite. As meningites virais s&atilde;o as causas mais comuns e as que mais acontecem, elas s&atilde;o auto-limitadas, ou seja, elas se resolvem por si mesmo, n&atilde;o existe um medicamento que vai melhorar o paciente, ele deve ficar internado, em observa&ccedil;&atilde;o, a gente vai fazer os cuidados gerais, a hidrata&ccedil;&atilde;o e com o tempo ele vai melhorar. J&aacute; as meningites bacterianas s&atilde;o mais complicadas, graves, ent&atilde;o ser&aacute; preciso fazer um antibi&oacute;tico espec&iacute;fico para meningite bacteriana, o paciente vai ficar internado tomando o antibi&oacute;tico e n&oacute;s faremos os exames de avalia&ccedil;&atilde;o antes e depois do rem&eacute;dio para ver a evolu&ccedil;&atilde;o, o exame &eacute; feito a partir de um l&iacute;quido recolhido nas costas do paciente, esse l&iacute;quido cef&aacute;lio bacteriano vai mostrar o tipo de bact&eacute;ria que acusa a doen&ccedil;a e o antibi&oacute;tico, esse tipo de meningite pode trazer complica&ccedil;&otilde;es como perda da vis&atilde;o, da audi&ccedil;&atilde;o, convuls&otilde;es.</p> <p align="justify"><strong>Qual dessas duas meningites pode ser contra&iacute;da a partir do contato com a pessoa doente?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> As duas. As meningites virais tendem a ser mais pelo contato, e as meningites bacterianas tamb&eacute;m, principalmente a meningite meningoc&oacute;cica, onde a bact&eacute;ria &eacute; transmitida por got&iacute;culas da saliva, ent&atilde;o o paciente com esse tipo de meningite bacteriana deve ser atendido mediante uso de m&aacute;scara dos profissionais, j&aacute; que o contato pode transmitir a bact&eacute;ria atrav&eacute;s da saliva e assim penetrar as vias a&eacute;reas superiores e se alojar no sistema nervoso central causando a meningite. Assim, tanto as virais quanto as bacterianas podem ser transmitidas pelo contado direto, no entanto, as virais s&atilde;o mais comuns.</p> <p align="justify"><strong>Ent&atilde;o contato direto com a pessoa contaminada pelas meningites viral ou bacteriana leva ao cont&aacute;gio?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Existe a possibilidade, todas as pessoas que entram em contato com esse paciente podem se contaminar, isso tamb&eacute;m depende muito da imunidade, da defesa do corpo da pessoa que est&aacute; entrando em contato. At&eacute; mesmo os familiares que antes de descobrirem algu&eacute;m com a doen&ccedil;a entram em contato direto, e muitas vezes n&atilde;o desenvolvem e nem se contagiam, ent&atilde;o depende muito do sistema de defesa de cada um.</p> <p align="justify"><strong>Quais s&atilde;o os primeiros e principais sintomas que indicam uma meningite?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Febre, dor de cabe&ccedil;a forte e constante que n&atilde;o cede a analg&eacute;sico (cefal&eacute;ia), e rigidez de nuca. Faz parte at&eacute; do exame f&iacute;sico pedir que o paciente deitado tente encostar o queixo no peito, em um per&iacute;odo agudo ele j&aacute; n&atilde;o consegue, a doen&ccedil;a evolui rapidamente de 2 a 3 dias, momento em que se parte para o exame do liquido cef&aacute;lico.</p> <p align="justify"><strong>O senhor tamb&eacute;m atende no Centro de Testagem e Aconselhamento &ndash; CTA, diante dessa experi&ecirc;ncia quais s&atilde;o as DSTs detectadas e qual o p&uacute;blico de maior demanda?</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A infectologia &eacute; uma especializa&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica que abrange doen&ccedil;as importantes, doen&ccedil;as que outros m&eacute;dicos n&atilde;o t&ecirc;m tanta experi&ecirc;ncia e pra gente que trabalha nessa &aacute;rea a cada dia que passa &eacute; um aprendizado maior, por exemplo, essa Gripe Su&iacute;na &eacute; uma novidade para muitos m&eacute;dicos, e a responsabilidade por essas patologias, viroses e infec&ccedil;&otilde;es &eacute; pertence a &aacute;rea da Infectologia. Ent&atilde;o no CTA o trabalha com as DSTs e com o V&iacute;rus do HIV que &eacute; uma doen&ccedil;a que ocorre no mundo inteiro. Os pacientes que procuram a testagem, mas o maior trabalho &eacute; a profilaxia, ou seja, a preven&ccedil;&atilde;o dos casos, o maior p&uacute;blico s&atilde;o as gestantes que fazem o exame de HIV e S&iacute;filis fundamentais durante o pr&eacute;-natal, esses exames evitam, caso se descubra a doen&ccedil;a durante o pr&eacute;-natal, que o rec&eacute;m-nascido contraia esses problemas, fora isso, o p&uacute;blico em geral tamb&eacute;m procura o CTA para fazer os exames dessas duas doen&ccedil;as sexualmente transmiss&iacute;veis. Aqui n&oacute;s tamb&eacute;m fazemos o tratamento de pacientes que possuam o v&iacute;rus do HIV em Picos e na macrorregi&atilde;o, ent&atilde;o nosso papel &eacute; de preven&ccedil;&atilde;o, tratamento e acompanhamento desses pacientes.</p> <div align="justify">Existem outras DSTs que infelizmente o CTA n&atilde;o disp&otilde;e de exame laboratorial para as mesmas, como a herpes, gonorr&eacute;ia, HPV, mas fazemos o aconselhamento mediante exame cl&iacute;nico. Outra patologia que &eacute; da &aacute;rea da infectologia s&atilde;o as hepatites B e C, que n&atilde;o deixam de ser sexualmente transmiss&iacute;veis. A hepatite A &eacute; a mais simples, ocorre mais em crian&ccedil;as e elas se contaminam atrav&eacute;s dos alimentos ou da &aacute;gua, &eacute; uma doen&ccedil;a auto-limitada, n&atilde;o existe um medicamento para trat&aacute;-la, a tend&ecirc;ncia &eacute; que a pessoa fique bem com o passar do tempo. J&aacute; as hepatites B e C,que s&atilde;o na maioria dos casos transmitidas pelo sexo desprotegido, s&atilde;o doen&ccedil;as mais complicadas e se n&atilde;o houver um tratamento e um acompanhamento elas podem evoluir para cirrose e c&acirc;ncer de f&iacute;gado, por isso &eacute; importante que as pessoas fa&ccedil;am o exame de hepatite B e C, porque elas s&atilde;o doen&ccedil;as silenciosas, a pessoa n&atilde;o sente nada e carrega o v&iacute;rus no sangue, quando a doen&ccedil;a se manifestarem sintomas, estar&aacute; h&aacute; muito tempo agindo no organismo e as vezes n&atilde;o d&aacute; mais para tratar o paciente.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify"><strong>Espa&ccedil;o aberto...</strong></p> <p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Em Picos n&atilde;o existe outro m&eacute;dico infectologista, &eacute; uma especialidade muito importante, tanto na &aacute;rea cl&iacute;nica quanto hospitalar. A &aacute;rea hospitalar em Picos ainda anda a passos lentos, n&atilde;o &eacute; dada tanta import&acirc;ncia a quest&atilde;o das infec&ccedil;&otilde;es hospitalares em Picos, n&atilde;o existe uma Comiss&atilde;o de Controle de Infec&ccedil;&otilde;es Hospitalares (CCIH), que &eacute; comandada por um infectologista, profissional que organiza a quest&atilde;o das infec&ccedil;&otilde;es, da limpeza dos hospitais, das prescri&ccedil;&otilde;es m&eacute;dicas para evitar resist&ecirc;ncia &agrave; antibi&oacute;ticos, n&atilde;o prescrever antibi&oacute;tico sem um conhecimento pr&eacute;vio, sem fazer um estudo para que todos os m&eacute;dico usem um determinado tipo de antibi&oacute;tico evitando-se a resist&ecirc;ncia de bact&eacute;rias nesses hospitais. A meu ver, o que precisa mais em Picos &eacute; o controle de infec&ccedil;&otilde;es hospitalares.</p> <p align="justify">J&aacute; em rela&ccedil;&atilde;o aos atendimentos na cidade, &eacute; importante frisar que os pacientes est&atilde;o come&ccedil;ando a criar uma consci&ecirc;ncia de especializa&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica, a sa&uacute;de de Teresina &eacute; muito desenvolvida por causa disso, os pacientes v&atilde;o direto nos especialistas. Portanto, &eacute; recomend&aacute;vel que a pessoa procure o especialista da sua doen&ccedil;a, esse profissional certamente passou muito tempo estudando as mesmas patologias e ter&aacute; mais dom&iacute;nio sobre que tratamento recomendar.</p> <p align="justify">Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; popula&ccedil;&atilde;o em geral, as doen&ccedil;as infecciosas v&atilde;o sempre acontecer, descobre-se a cura de uma e j&aacute; vem outra logo em seguida, por conta dos h&aacute;bitos da popula&ccedil;&atilde;o, da mis&eacute;ria, a falta de conhecimento tamb&eacute;m influi, ou seja, uma simples lavada das m&atilde;o, a fervura de &aacute;gua, o uso do preservativo, os excessos que as pessoas comentem faz com que essas doen&ccedil;as proliferem e surjam doen&ccedil;as mais complicadas. O Brasil &eacute; um pa&iacute;s em desenvolvimento, se pararmos para observar a dengue, por exemplo, n&atilde;o ocorre em pa&iacute;ses desenvolvidos, porque as pessoas tem um h&aacute;bito de vida mais saud&aacute;vel, se previnem mais, existe uma limpeza maior nas vias de &aacute;gua. Ent&atilde;o digo, tanto para os jovens, quanto para os adultos que as doen&ccedil;as est&atilde;o a&iacute;, sejam elas infecciosas, cardiol&oacute;gicas, causadas pela alimenta&ccedil;&atilde;o, hipertens&atilde;o, diabetes, por isso todos devem buscar uma melhor qualidade.</p> <div align="justify"><strong>Formado pela Universidade Estadual de Ci&ecirc;ncias da Sa&uacute;de de Alagoas - UNCISAL e especializado em Infectologia pela Universidade Federal do Piau&iacute; no Hospital Natan Portela em Teresina, Dr. Clayton Barros atende no Centro de Testagem e Aconselhamento de Picos &ndash; CTA, na Cl&iacute;nica Medcenter e nos munic&iacute;pios de Bocaina e Santa Cruz do Piau&iacute;.</strong></div>
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