Dr. Clayton Barros fala sobre doenças infecciosas e desmitifica tabus da Gripe A
O médico infectologista é responsável pelas doenças infecciosas em geral, desde DSTs, meningites, hepatites até o controle de infecções hospitalares
<p align="justify"><strong>Qual o papel do médico infectologista?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Ele é o médico responsável pelas doenças infecciosas em geral, ou seja, todas as infecções nas determinadas áreas ele é responsável, além disso, pelas vacinas e pelo controle de infecção hospitalar.</p>
<p align="justify"><strong>O infectologista também atua no campo de tratamento que combate a Influenza A, como o senhor avalia a atual situação do Brasil e do estado do Piauí?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> O Brasil, principalmente as regiões Sul e Sudeste encontram-se numa situação bem mais complicada que a do Nordeste. O Piauí tem alguns casos confirmados, mas em pouca quantidade ainda. De uma forma geral existe uma tendência de essa gripe avançar, principalmente no Nordeste.</p>
<p align="justify"><strong>As condições climáticas contribuem para essa contaminação?</strong></p>
<div align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A condição climática favorece a gripe, inclusive a região Sul vive o momento do inverno, momento de chuvas, o que influencia o maior número de casos. No Piauí, por exemplo, vivemos um momento de verão, assim, as viroses e gripes de forma geral diminuem. Então a questão climática influencia, mas não vai definir, já que o vírus se espalha de pessoa e pessoa independente do clima.</div>
<p align="justify"><strong>Quais são os principais cuidados que as pessoas devem ter no que diz respeito à Gripe A?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Como o vírus não surgiu no Piauí, vem de fora, a primeira questão a se ter em mente é o cuidado com pessoas que estiveram viajando, se as mesmas não apresentarem nenhum sintoma de gripe, não se faz necessário ter cuidados excessivos. Em geral é necessário ter cuidados normais, como lavar bem e sempre as mãos, usar lenço descartável ao espirrar, evitar o contato das mãos com superfícies e em seguida com o rosto. Diante do contato com pessoas que apresentam sintomas gripais, é importante evitar o contato direto, por conta das gotículas da saliva, da respiração e do espirro, e em casos extremos usar máscara.</p>
<p align="justify"><strong>Existe uma polêmica em torno do uso das máscaras, viagens em ônibus fechados, em ambientes de contato direto como bancos, escolas e festas, é preciso usar máscara?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Primeiramente as máscaras têm um tempo útil de vida, a tendência é que ela fique umedecida com a saliva e a respiração, e nesse momento já perde sua utilidade. A máscara só deve ser usada no contato com pessoas que tiverem realmente uma suspeita, por exemplo, um paciente vai ao hospital com a suspeita de Gripe A, este deve usar a máscara, os profissionais que vão atendê-lo também. É importante falar que depois do atendimento, o paciente pode ser enviado para casa, onde deve ficar monitorado e em isolamento. O Ministério da Saúde não recomenda a internação de todos os casos. Quando houver a necessidade de internação, o paciente ficará usando uma máscara e todas as pessoas que forem ter contato com o mesmo devem usá-las também. A questão de todo mundo usar máscara não é recomendável, a recomendação é usar apenas quando houver o contato com a pessoa contaminada ou com suspeita.</p>
<p align="justify"><strong>A dengue já é uma velha conhecida dos brasileiros, mas todos os anos o mosquito retorna e faz muitas vítimas, quais são os riscos reais de uma dengue?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A dengue assim como a Gripe Suína é uma virose, provocada por um vírus transmitido pelo mosquito Aëdes aegypti. O mosquito transmissor pica qualquer tipo de pessoa, não importando se é uma área nobre ou de periferia na cidade, o que importa realmente é saber se população local está atenta aos cuidados como não armazenar água em local impróprio, os riscos são todos aqueles que já foram bem batidos pelo Ministério da Saúde.</p>
<p align="justify"><strong>Qual a diferença de uma dengue normal para um dengue hemorrágica?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A dengue comum é mais branda sem fenômenos hemorrágicos. O paciente pode ter hemorragias, e esses sangramentos podem ser mais simples como um sangramento pelo nariz, pela gengiva, no olho ou nas fezes, mas é a partir do mais simples que este sangramento pode evoluir para um mais grave, o que pode causar a morte do paciente por choque. Diante de muito extravasamento sanguíneo, interno e externo, ocorre o choque hemorrágico, o paciente sofre queda na pressão diante das conseqüentes hemorragias. A dengue hemorrágica é uma complicação da dengue comum e não um tipo de dengue diferente. É o mesmo vírus que desenvolve uma doença mais simples ou mais grave, inclusive na mesma pessoa.</p>
<p align="justify"><strong>A meningite gera pânico na população, quais os seus tipos e seqüelas?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> As meningites têm várias causas, as mais comuns são as virais e as bacterianas, mas existem outras causas como fungos que também podem causar meningite, geralmente em pacientes imunodeprimidos que apresentam alguma doença de base como câncer ou HIV que o faz mais suscetível a adquirir um fungo que pode chegar até a medula e gerar meningite. As meningites virais são as causas mais comuns e as que mais acontecem, elas são auto-limitadas, ou seja, elas se resolvem por si mesmo, não existe um medicamento que vai melhorar o paciente, ele deve ficar internado, em observação, a gente vai fazer os cuidados gerais, a hidratação e com o tempo ele vai melhorar. Já as meningites bacterianas são mais complicadas, graves, então será preciso fazer um antibiótico específico para meningite bacteriana, o paciente vai ficar internado tomando o antibiótico e nós faremos os exames de avaliação antes e depois do remédio para ver a evolução, o exame é feito a partir de um líquido recolhido nas costas do paciente, esse líquido cefálio bacteriano vai mostrar o tipo de bactéria que acusa a doença e o antibiótico, esse tipo de meningite pode trazer complicações como perda da visão, da audição, convulsões.</p>
<p align="justify"><strong>Qual dessas duas meningites pode ser contraída a partir do contato com a pessoa doente?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> As duas. As meningites virais tendem a ser mais pelo contato, e as meningites bacterianas também, principalmente a meningite meningocócica, onde a bactéria é transmitida por gotículas da saliva, então o paciente com esse tipo de meningite bacteriana deve ser atendido mediante uso de máscara dos profissionais, já que o contato pode transmitir a bactéria através da saliva e assim penetrar as vias aéreas superiores e se alojar no sistema nervoso central causando a meningite. Assim, tanto as virais quanto as bacterianas podem ser transmitidas pelo contado direto, no entanto, as virais são mais comuns.</p>
<p align="justify"><strong>Então contato direto com a pessoa contaminada pelas meningites viral ou bacteriana leva ao contágio?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Existe a possibilidade, todas as pessoas que entram em contato com esse paciente podem se contaminar, isso também depende muito da imunidade, da defesa do corpo da pessoa que está entrando em contato. Até mesmo os familiares que antes de descobrirem alguém com a doença entram em contato direto, e muitas vezes não desenvolvem e nem se contagiam, então depende muito do sistema de defesa de cada um.</p>
<p align="justify"><strong>Quais são os primeiros e principais sintomas que indicam uma meningite?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Febre, dor de cabeça forte e constante que não cede a analgésico (cefaléia), e rigidez de nuca. Faz parte até do exame físico pedir que o paciente deitado tente encostar o queixo no peito, em um período agudo ele já não consegue, a doença evolui rapidamente de 2 a 3 dias, momento em que se parte para o exame do liquido cefálico.</p>
<p align="justify"><strong>O senhor também atende no Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA, diante dessa experiência quais são as DSTs detectadas e qual o público de maior demanda?</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> A infectologia é uma especialização médica que abrange doenças importantes, doenças que outros médicos não têm tanta experiência e pra gente que trabalha nessa área a cada dia que passa é um aprendizado maior, por exemplo, essa Gripe Suína é uma novidade para muitos médicos, e a responsabilidade por essas patologias, viroses e infecções é pertence a área da Infectologia. Então no CTA o trabalha com as DSTs e com o Vírus do HIV que é uma doença que ocorre no mundo inteiro. Os pacientes que procuram a testagem, mas o maior trabalho é a profilaxia, ou seja, a prevenção dos casos, o maior público são as gestantes que fazem o exame de HIV e Sífilis fundamentais durante o pré-natal, esses exames evitam, caso se descubra a doença durante o pré-natal, que o recém-nascido contraia esses problemas, fora isso, o público em geral também procura o CTA para fazer os exames dessas duas doenças sexualmente transmissíveis. Aqui nós também fazemos o tratamento de pacientes que possuam o vírus do HIV em Picos e na macrorregião, então nosso papel é de prevenção, tratamento e acompanhamento desses pacientes.</p>
<div align="justify">Existem outras DSTs que infelizmente o CTA não dispõe de exame laboratorial para as mesmas, como a herpes, gonorréia, HPV, mas fazemos o aconselhamento mediante exame clínico. Outra patologia que é da área da infectologia são as hepatites B e C, que não deixam de ser sexualmente transmissíveis. A hepatite A é a mais simples, ocorre mais em crianças e elas se contaminam através dos alimentos ou da água, é uma doença auto-limitada, não existe um medicamento para tratá-la, a tendência é que a pessoa fique bem com o passar do tempo. Já as hepatites B e C,que são na maioria dos casos transmitidas pelo sexo desprotegido, são doenças mais complicadas e se não houver um tratamento e um acompanhamento elas podem evoluir para cirrose e câncer de fígado, por isso é importante que as pessoas façam o exame de hepatite B e C, porque elas são doenças silenciosas, a pessoa não sente nada e carrega o vírus no sangue, quando a doença se manifestarem sintomas, estará há muito tempo agindo no organismo e as vezes não dá mais para tratar o paciente.</div>
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<p align="justify"><strong>Espaço aberto...</strong></p>
<p align="justify"><strong>Dr. Clayton Barros:</strong> Em Picos não existe outro médico infectologista, é uma especialidade muito importante, tanto na área clínica quanto hospitalar. A área hospitalar em Picos ainda anda a passos lentos, não é dada tanta importância a questão das infecções hospitalares em Picos, não existe uma Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH), que é comandada por um infectologista, profissional que organiza a questão das infecções, da limpeza dos hospitais, das prescrições médicas para evitar resistência à antibióticos, não prescrever antibiótico sem um conhecimento prévio, sem fazer um estudo para que todos os médico usem um determinado tipo de antibiótico evitando-se a resistência de bactérias nesses hospitais. A meu ver, o que precisa mais em Picos é o controle de infecções hospitalares.</p>
<p align="justify">Já em relação aos atendimentos na cidade, é importante frisar que os pacientes estão começando a criar uma consciência de especialização médica, a saúde de Teresina é muito desenvolvida por causa disso, os pacientes vão direto nos especialistas. Portanto, é recomendável que a pessoa procure o especialista da sua doença, esse profissional certamente passou muito tempo estudando as mesmas patologias e terá mais domínio sobre que tratamento recomendar.</p>
<p align="justify">Em relação à população em geral, as doenças infecciosas vão sempre acontecer, descobre-se a cura de uma e já vem outra logo em seguida, por conta dos hábitos da população, da miséria, a falta de conhecimento também influi, ou seja, uma simples lavada das mão, a fervura de água, o uso do preservativo, os excessos que as pessoas comentem faz com que essas doenças proliferem e surjam doenças mais complicadas. O Brasil é um país em desenvolvimento, se pararmos para observar a dengue, por exemplo, não ocorre em países desenvolvidos, porque as pessoas tem um hábito de vida mais saudável, se previnem mais, existe uma limpeza maior nas vias de água. Então digo, tanto para os jovens, quanto para os adultos que as doenças estão aí, sejam elas infecciosas, cardiológicas, causadas pela alimentação, hipertensão, diabetes, por isso todos devem buscar uma melhor qualidade.</p>
<div align="justify"><strong>Formado pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL e especializado em Infectologia pela Universidade Federal do Piauí no Hospital Natan Portela em Teresina, Dr. Clayton Barros atende no Centro de Testagem e Aconselhamento de Picos – CTA, na Clínica Medcenter e nos municípios de Bocaina e Santa Cruz do Piauí.</strong></div>