O bispo faz questão de expressar o amor que sente pelo povo de Picos.
<div align="justify">Ordenado no dia 21 de fevereiro de 1960, em Roma, o bispo diocesano de Floriano, dom Augusto Alves da Rocha, 76, recebeu nossa reportagem, no dia 19 deste mês em visita a cidade modelo, e falou de seu trabalho durante os 50 anos de vida sacerdotal, o carinho para com o povo de Picos e a importância da participação do leigo e das comunidades na sustentabilidade de uma diocese.</div>
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<div align="justify">Dom Augusto foi bispo de Picos desde a criação da diocese, em 21 de setembro de 1975 até 2001. No mesmo ano foi transferido para a diocese de Oeiras-Floriano ficando até o ano de 2008, vindo assumir a recém diocese de Floriano, onde permanecerá até o mês de Julho, data que assumi o novo bispo daquela diocese.</div>
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<div align="justify">CONFIRA A ENTREVISTA</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Inicialmente, 50 anos de vida sacerdotal. Como o senhor se sente comemorando este Jubileu de Ouro?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Sinto-me com o coração muito agradecido a Deus porque me chamou para esta missão. Eu entendi que era realmente um chamado de Deus e procurei canalizar minha vida nesta direção. Sempre convicto que ELE ia acompanhar com suas graças e somente assim séria possível percorrer esse grande caminho. Tive momento de muitas alegrias ao longo desses 50 anos. Posso dizer que mais da metade deste período, foi vivido aqui em Picos, e já na condição de bispo, organizando a diocese e tentado encaminhar o nosso povo para as formações das comunidades e isso me enriqueceu bastante na visão de igreja. Eu não consigo entender uma igreja que não vise à formação da comunidade. Eu me sinto muito feliz por ter batalhado esse tempo todo e tentando levar aos corações das pessoas o sentido do evangelho. É claro que, quando a gente insiste por esse caminho, vai contrariar muitas pessoas que preferem andar tirando proveito próprio para sua própria vida. O mundo infelizmente é esse, que pensa em si em primeiro lugar. É preciso que esse povo esteja iluminado pela fé, pois tudo irá melhorar, o comportamento das pessoas na família, no trabalho, a juventude que se prepara para o dia de amanhã, o consumismo vai diminuir. Fico muito feliz quando passo por aqui, e vejo que existem raízes bem profundas e manifestações bem claras de que as comunidades ainda estão vivas.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Como o senhor citou, mais da metade desta caminhada foi na cidade de Picos. O que essa diocese e seu povo representam em sua vida?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Bom, na minha vida representa muito. Primeiro eu me eduquei na minha fé entendendo que não poderia servir a esse povo sem os outros, sem o povo que Deus me confiou. Então eu acreditei bastante que o bispo e os padres tinham que se valer mais dos leigos que fazem parte da igreja, não por empréstimos, não por uma concessão que a igreja faça, mas por um direito, obtido pelo próprio batismo. Quem se batiza, pertence à igreja e é interessado nela, tem uma missão própria. O leigo é aquele que santifica o mundo, com seu testemunho, com sua presença. Então a igreja, os ministros consagrados, padres e bispos não podem dispensar os trabalhos dos leigos.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Na celebração de ontem 18/04, aqui em Picos, que marcou a comemoração do seu Jubileu, o senhor disse em sua homília que após ser nomeado bispo de Picos, pelo Papa Paulo VI, ficando preocupado, foi até ele questionando em assumir uma diocese com apenas cinco padres, porém ele lhe respondera: “O Espírito Santo Vem”. O que significou para o senhor essas palavras do santo Padre?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Pois bem, ali me parece que foi o segredo de tudo. Eu entendi de fato que tinha que me apoiar não nos meus planos que imaginava em minha cabeça, mas eu vinha para uma missão confiada pelo próprio Deus. Então aquela palavra de Jesus “Eu estarei com você até o fim dos séculos”, era pra valer. E foi nesse sentido que me coloquei a disposição do senhor aqui, e fomos começando a diocese, mesmo com poucas pessoas, mas com a união da comunidade.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Durante esses 50 anos o senhor assumiu as dioceses de Oeiras e Floriano. Como foi essa experiência?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Pois é, foi digamos assim uma mudança da água pro vinho. Você sabe que naquele período que saí daqui eu me surpreendi com a transferência, não esperava, mas eu me coloquei presente diante de Deus para dizer que não iria pedir para ficar, nem para sair. Acho que devo seguir os passos que o senhor me indicar. Então foi pra lá, uma diocese que tinha estrutura, uma longa caminhada e naturalmente o contexto era totalmente diferente, cultura diferente, o povo com uma raiz católica diferente, então tudo isso interferiu em alguns momentos na vida prática. Porém assumi a Diocese de Oeiras e de Floriano onde foi um trabalho gratificante. Com a nomeação do novo bispo, deixarei a diocese, mas feliz.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> No mês de Julho assumi o novo bispo em Floriano, com isso o senhor ganha o direito do descanso, deixando as obrigações administrativas. Qual será seu destino? Já pensa onde vai morar?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Como implica numa mudança de vida e também certa atenção a problemas de saúde, eu estou planejando ficar esse segundo semestre de 2010, em primeiro lugar cuidando da saúde e segundo lugar decidindo o que fazer e onde vou ficar. Há várias tendências. Uma tendência forte na direção de Brasília, pois lá moram meus irmãos, sobrinhos, netos. Existe também proposta de trabalho a ser feito na Rede Vida, convites em Teresina e do próprio bispo que vai assumir em Floriano. Então vou analisar qual será o lugar mais adequado para minha situação real.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Fugindo do foco, nos últimos anos têm aumentado o número de igrejas evangélicas no Brasil, consequentemente muitas pessoas migraram para essas outras religiões. Em sua opinião, a igreja católica errou em alguma coisa ou é natural?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Bom, naturalmente se formos analisar a fundo, temos muito que pensarmos como igreja católica. Nós éramos uma maioria quase que total, então isso tinha levado muitas pessoas a imaginar que estávamos seguros o tempo todo e agora chegamos a um ponto no mundo em que as pessoas não estão mais unidas em nome de uma pessoa que possa dizer que o caminho é esse, por aqui é que dá certo, mas sim num período que as pessoas dizem “olha, quem escolhe o que vai acontecer comigo sou eu”. Então não estão caminhando para Deus, para demonstrar a ele que gratuitamente eu preciso dele, mas estão correndo atrás de um Deus que possa resolver suas questões. Então a uma busca desenfreada para resolver questões financeiras, de saúde, uma difusão de igrejas com propostas exatamente para aliviar os sofrimentos e as pessoas já fragilizadas pelas dificuldades, corre atrás. A igreja católica não pode também enganar as pessoas, armar um trampolim para prender as pessoas. Claro que nós deveríamos fazer um trabalho de não esperar o povo na igreja e sim sair ao encontro das pessoas, num contato pessoal. Isso é fundamental e aí nós erramos bastante.</div>
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<div align="justify"><strong>Edson Costa:</strong> Existe em vários setores, mas quando surge dentro da igreja é grande a repercussão os casos de pedofilia. Qual sua visão sobre esse assunto?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> É uma situação gravíssima e atinge a sociedade como um todo. Eu creio que quando acontece no espaço da igreja se torna grave porque se espera muito de um padre, de uma pessoa ligada a igreja. Mas se nós formos para as estatísticas esse número é irrisório. No seio das famílias, infelizmente acontece em uma proporção enorme. Nós temos uma organização que às vezes fazem acusações que precisaria ser mais comprovadas. Eu não quero dizer que não tenhamos culpas, sim. Agora vamos imaginar alguém há cinqüenta anos cometeu uma falha como esta na relação com uma pessoa e aí eu vou incriminar uma autoridade da igreja que mora a milhares de quilômetros de distancia, que não conhece esta pessoa. A alguma coisa precisava ser analisado e vista também pelo conjunto da sociedade. A um tempo de muita provação, há um desejo muito forte de desagregar a igreja, porque o mundo sabe e conhece a força de sua organização. Eu sei que o bombardeio é forte, devemos nos preparar melhor, agir com mais transparência, não encobrir nada, pois é obrigação nossa de colocar tudo para que a justiça resolva as questões, puna os culpados, mas demolir a igreja, acabar com ela. Ela é divina, ninguém vai poder contra ela.</div>
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<div align="justify"> <strong>Edson Costa:</strong> Neste ano eleitoral, qual orientação da igreja católica para esse período?</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> A igreja não modifica seu comportamento. Nós apoiamos que sejam candidatos quem tenham ficha limpa e que aqueles que não tem, que seja proibidos pela lei, mostrando assim que a igreja defende os princípios da honestidade, do respeito e que não comunga desse expediente de compra de votos. Queremos que a política seja um grande serviço ao povo e nunca uma oportunidade para aproveitamento próprio.</div>
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<div align="justify"> <strong>Edson Costa:</strong> Quero agradecer pela disponibilidade em conceder esta entrevista ao mesmo tempo em que fica aberto para suas considerações finais.</div>
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<div align="justify"><strong>Dom Augusto:</strong> Quero dizer que me rendo e me curvo ao povo picoense e agradeço a amizade e atenção que sempre dispensaram a mim. Meu coração aprendeu a amar esse povo e posso dizer que sou muito agradecido por todo tempo que tivemos juntos. Que Deus abençoe a todos e encha de esperança a comunidade picoense.</div>