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ETNIAS
Paulo Mafra fala sobre etnia cigana
O professor universitário e pesquisador na área de Serviço Social falou sobre os trabalhos desenvolvidos à frente da diretoria de igualdade racial e etnia cigana.
Karol Bezerra - 27/04/2010

<div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> &eacute; professor universit&aacute;rio e pesquisador na &aacute;rea de Servi&ccedil;o Social e antropologia. Formado em hist&oacute;ria, especialista em hist&oacute;ria das artes e religi&otilde;es e em hist&oacute;ria do Brasil com &ecirc;nfase em hist&oacute;ria do Piau&iacute;; mestrando em Servi&ccedil;o Social na UFPE. &Eacute; diretor de Pol&iacute;ticas Publicas para igualdade racial e etnia cigana, pasta vinculada a secretaria da Juventude e Direitos Humanos de Picos.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Karol Bezerra &ndash; O Prefeito Gil Paraibano instituiu o dia municipal do cigano. O que isso significa, no &acirc;mbito social para essa comunidade?</strong></p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> &ndash; isso significa um grande avan&ccedil;o para a comunidade cigana no que se trata do seu reconhecimento perante os outros mun&iacute;cipes. Porque o preconceito existe, &eacute; fato. Por&eacute;m, n&atilde;o existia nada que comprovasse, que tivesse valor oficial de que os ciganos existem como qualquer outro mun&iacute;cipe e que tem direitos civis e sociais. &Eacute; um reconhecimento da prefeitura dizendo que os ciganos existem e tem um dia garantido por lei. Nesse dia eles v&atilde;o comemorar e mostrar sua cultura, porque eles t&ecirc;m uma cultura assim como o &iacute;ndio, o negro e outras etnias.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>KB &ndash; Qual &eacute; o maior problema enfrentado pelos ciganos que moram e pelos que chegam pra morar em Picos?</strong></p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> &ndash; a pr&oacute;pria no&ccedil;&atilde;o de nomadismo que os ciganos possuem &eacute; algo que modificou na hist&oacute;ria, na d&eacute;cada de 70 e 80 os ciganos circulavam pelas cidades do Brasil, mas isso tem mudado; os ciganos n&atilde;o tem mais isso de ficar andando e morando em tendas como eles moravam antigamente porque existe assalto e roubo ai eles j&aacute; procuram morar em casas. S&oacute; que a pr&oacute;pria quest&atilde;o do nomadismo mudou &ndash; eles n&atilde;o andam mais o Brasil inteiro, o nomadismo acontece na mesma cidade, mudando apenas de rua devido &agrave; cultura do cigano de n&atilde;o ser apegado as suas refer&ecirc;ncias locais nem a bens materiais. Ent&atilde;o isso faz com que eles tenham essa mobilidade, porque eles n&atilde;o est&atilde;o presos a valores, tudo &eacute; resolvido em comunidade, ent&atilde;o como &eacute; tudo feito em comunidade isso d&aacute; uma mobilidade pra eles mudarem quando quiserem.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>KB &ndash; Esse nomadismo gera desconfian&ccedil;a?</strong></p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> &ndash; Eles recebem nomes de pessoas que n&atilde;o s&atilde;o descentes porque circulam. &Eacute; o preconceito das pessoas sedent&aacute;rias que n&atilde;o entendem os n&ocirc;mades. O sedent&aacute;rio &eacute; sedent&aacute;rio por uma quest&atilde;o cultural. O n&ocirc;made &eacute; n&ocirc;made por uma quest&atilde;o cultural.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>KB &ndash; O que voc&ecirc; destaca como mudan&ccedil;a, ap&oacute;s a cria&ccedil;&atilde;o da diretoria de pol&iacute;ticas publicas para igualdade racial e etnia cigana?</strong></p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> -&nbsp;O que isso muda tanto pra o &oacute;rg&atilde;o governamental ou n&atilde;o governamental ou pra sociedade em geral &eacute; a comunica&ccedil;&atilde;o, o dialogo que com a diretoria vai ser mais f&aacute;cil. Antes da diretoria o movimento negro, os ciganos, enfim, todas essas quest&otilde;es de ra&ccedil;a e etnia n&atilde;o tinham acesso direto com os &oacute;rg&atilde;os governamentais. Ent&atilde;o muitos desses movimentos criaram ong&rsquo;s, como o movimento negro aqui de Picos. Por&eacute;m, pra eles terem acesso ao apoio da prefeitura eles teriam que conversar com algum dos secret&aacute;rios. Hoje, com a diretoria a gente faz o papel de articular. Os movimentos nos procuram, n&oacute;s recebemos a proposta ou convite, procuramos o &oacute;rg&atilde;o competente, analisamos as propostas, ou seja, mediamos para dar resultados.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>KB &ndash; Os ciganos est&atilde;o conscientes dos seus direitos?</strong></p> </div> <div align="justify"> <p><strong>Paulo Mafra</strong> &ndash; &Eacute; algo que eu tenho encontrado dificuldade. Primeiro porque o preconceito que eles v&ecirc;m sofrendo com o tempo, que colocaram na cabe&ccedil;a deles; exclu&iacute;ram eles de uma forma que por mais que eles vejam que tem direito, eles n&atilde;o se sentem no direito. Agora &eacute; momento de resgatar, conscientizar. O direito n&atilde;o foi perdido, o direito sempre existiu s&oacute; que agora eles precisam tomar consci&ecirc;ncia do que eles perderam nesse tempo. Ent&atilde;o, a minha comunica&ccedil;&atilde;o com eles a cada dia se amplia mais. Eu estou tentando mostrar pra eles que o direito deles existe e eles precisam estar articulados pra ter acesso a esse direito. &Eacute; um trabalho lento porque a pr&oacute;pria informa&ccedil;&atilde;o sobre esses direitos eles est&atilde;o come&ccedil;ando a procurar agora, a mentalidade vai sendo alterada a partir do momento que eles tomam consci&ecirc;ncia dos direitos e param de se colocar como pessoas que t&atilde;o ali pedindo, como se fossem inferiores.</p> </div> <div align="justify"> <p><strong>KB &ndash;De que forma a diretoria pretende conscientizar a sociedade pra que eles recebam, acolham e conhe&ccedil;am a cultura cigana?</strong></p> </div> <div align="justify"><strong>Paulo Mafra</strong> &ndash; Inicialmente quando eu cheguei pra eles e disse que tinha uma data, o dia do cigano eles pensaram em fazer uma festa como eles sempre fazem. Eles me disseram que sempre chamam amigos s&oacute; que eu falei da pr&oacute;pria cultura, de mostrar, de eles terem essa consci&ecirc;ncia de se colocarem como ciganos e mostrarem sua cultura, ent&atilde;o eles pensaram numa dan&ccedil;a. E eu como diretor j&aacute; estou articulando pra que as pessoas conhe&ccedil;am a dan&ccedil;a cigana. Por enquanto &eacute; um trabalho de divulga&ccedil;&atilde;o, pra que as pessoas entendam que eles tem direitos e tamb&eacute;m para as pessoas conhecerem porque tem muito preconceito at&eacute; sem conhecer. Isolam sem saber como &eacute; o cigano, sem conversar com o cigano. A diretoria ta articulando essa quest&atilde;o de convocar a sociedade civil pra conversar e conhecer os ciganos antes de julgar.</div>
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