ARTIGO
Alfabetização no Brasil: anatomia de um desastre!
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Da Redação - 02/09/2011

<div align="justify"> <p>A partir de uma iniciativa do Movimento Todos pela Educa&ccedil;&atilde;o, com o Instituto Paulo Montenegro/IBOPE, a Funda&ccedil;&atilde;o Cesgranrio e o INEP, &oacute;rg&atilde;os de estudos e pesquisas educacionais do Governo Federal, realizou-se neste primeiro semestre de 2011, a Prova ABC, cujo objetivo era o de avaliar os resultados de aprendizagem de Portugu&ecirc;s e Matem&aacute;tica de alunos do 3&ordm; ano do ensino fundamental, portanto, crian&ccedil;as de 8 anos de idade, finalizando sua fase de alfabetiza&ccedil;&atilde;o.</p> </div> <div align="justify"> <p>A prova foi aplicada a um conjunto de 6.000 estudantes de escolas urbanas das capitais, p&uacute;blicas (estaduais e municipais) e privadas. A amostra de alunos foi ponderada a partir de crit&eacute;rios regionais, de depend&ecirc;ncia administrativa e a partir do n&iacute;vel de profici&ecirc;ncia da escola no &Iacute;ndice de Desenvolvimento da Educa&ccedil;&atilde;o B&aacute;sica (IDEB). Desta forma, participaram 1.000 alunos das regi&otilde;es Norte, Sul e Centro-Oeste, mais 1.400 alunos da regi&atilde;o Nordeste e os demais 1.600 respondentes estudavam em escolas da regi&atilde;o Sudeste do pa&iacute;s.</p> </div> <div align="justify"> <p>A t&ocirc;nica geral dos resultados aponta, mais uma vez, para as enormes desigualdades existentes no sistema educacional brasileiro, partindo da contraposi&ccedil;&atilde;o entre escolas p&uacute;blicas e privadas at&eacute; alcan&ccedil;ar o crit&eacute;rio regional de localiza&ccedil;&atilde;o das escolas.&nbsp;</p> </div> <div align="justify"> <p>O primeiro dado importante vem do quesito leitura. Os alunos das escolas privadas obtiveram, na m&eacute;dia brasileira, um desempenho 41 pontos inferior ao dos estudantes de escolas p&uacute;blicas, medidos a partir da escala do SAEB. Considerando que a pontua&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica a ser atingida seria de 175 pontos, isto significa dizer que os alunos das escolas p&uacute;blicas atingem este patamar, pois sua pontua&ccedil;&atilde;o &eacute; de 175,76. Contudo, os alunos das escolas privadas alcan&ccedil;am uma pontua&ccedil;&atilde;o m&eacute;dia de 216,71.</p> </div> <div align="justify"> <p>Quando olhamos mais detidamente os dados, surge uma realidade ainda mais preocupante no quesito leitura. Os alunos da rede privada da regi&atilde;o Sul do pa&iacute;s obtiveram uma pontua&ccedil;&atilde;o de 228,35, enquanto que os alunos das escolas p&uacute;blicas da regi&atilde;o Nordeste alcan&ccedil;aram apenas 159,74. Ou seja, uma diferen&ccedil;a de quase 69 pontos na escala, que significa concretamente que os alunos nordestinos, saindo de sua fase de alfabetiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o conseguem, diante de um texto como um conto, f&aacute;bula, desenho ou hist&oacute;ria em quadrinhos, identificar o tema, informa&ccedil;&otilde;es expl&iacute;citas, personagens ou caracter&iacute;sticas das personagens envolvidas na leitura.</p> </div> <div align="justify"> <p>De um ponto de vista percentual, considerando escolas p&uacute;blicas e privadas, apenas 42% dos alunos da regi&atilde;o Nordeste conseguem alcan&ccedil;ar a pontua&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, de 175. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mais de 60% o fazem, o que n&atilde;o &eacute; um resultado bom, mas ainda assim, 50% melhor que o desempenho dos alunos nordestinos. Para que se possa avaliar o desastre da alfabetiza&ccedil;&atilde;o em escolas p&uacute;blicas, na m&eacute;dia nacional, apenas cerca de 49% das crian&ccedil;as atingem o b&aacute;sico, enquanto 79% das crian&ccedil;as oriundas de escolas particulares alcan&ccedil;am aquela nota m&iacute;nima.</p> </div> <div align="justify"> <p>Em matem&aacute;tica, no final do 3&ordm; ano de escolaridade b&aacute;sica, quadro semelhante se revela. Considerando a mesma pontua&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica, de 175 pontos, a diferen&ccedil;a entre a menor m&eacute;dia regional, que &eacute; a da regi&atilde;o Norte (152,62), est&aacute; 33 pontos abaixo da maior m&eacute;dia, da regi&atilde;o Sul (185,64). E a diferen&ccedil;a m&eacute;dia de desempenho dos alunos de escolas p&uacute;blicas e privadas foi de 53 pontos, considerando o pa&iacute;s como um todo.&nbsp;</p> </div> <div align="justify"> <p>Quando verificamos os resultados por regi&atilde;o e depend&ecirc;ncia administrativa, ou seja, escolas p&uacute;blicas e privadas, os alunos da rede p&uacute;blica da regi&atilde;o Norte obtiveram pontua&ccedil;&atilde;o de 145,43, enquanto os alunos das escolas privadas do Sul do pa&iacute;s atingiram pontua&ccedil;&atilde;o 79,44 pontos superior, 224,87.&nbsp;</p> </div> <div align="justify"> <p>Considerando ambas as redes, p&uacute;blica e privada, e os 175 pontos como nota b&aacute;sica, apenas 28% das crian&ccedil;as da regi&atilde;o Norte aprendeu os conte&uacute;dos b&aacute;sicos de matem&aacute;tica exigidos de uma crian&ccedil;a de 8 anos, enquanto que este percentual &eacute; de 50,3% na regi&atilde;o Sul do pa&iacute;s. Se subtrairmos da an&aacute;lise a quest&atilde;o regional, a diferen&ccedil;a de aprendizado m&eacute;dio &eacute; de 42 pontos, ou seja, apenas 36,6% das crian&ccedil;as de escola p&uacute;blica alcan&ccedil;am os 175 pontos, o que contrasta com os 74,3% que os alcan&ccedil;am aqueles que estudam em escolas privadas.</p> </div> <div align="justify"> <p>A prova mediu ainda o desempenho dos alunos na escrita e os dados apresentam as mesmas caracter&iacute;sticas de desigualdade por escolas e regi&atilde;o em que os alunos freq&uuml;entam suas aulas. Assim, os alunos das escolas p&uacute;blicas da regi&atilde;o Nordeste obtiveram m&eacute;dia de 44,5 pontos, enquanto os alunos de escolas privadas da regi&atilde;o Sul do pa&iacute;s atingiram 96,7, portanto, uma diferen&ccedil;a de 52 pontos. O fosso entre sistemas p&uacute;blico e privado &eacute; tamb&eacute;m enorme, pois 82,4 dos alunos de escolas privadas alcan&ccedil;aram os 75 pontos b&aacute;sicos exigidos, enquanto que somente 44% dos estudantes de escolas p&uacute;blicas o fizeram.</p> </div> <div align="justify"> <p>Tendo como ponto de partida que a Prova ABC mediu o desempenho dos alunos terminando sua fase de alfabetiza&ccedil;&atilde;o, os resultados apontam para a enorme tarefa da educa&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica brasileira. As diferen&ccedil;as de desempenho, por quest&otilde;es socioecon&ocirc;micas e regionais s&atilde;o assustadoras e se as consideramos do ponto de vista dos direitos, s&atilde;o absolutamente inaceit&aacute;veis.</p> </div> <div align="justify"> <p>Nossas crian&ccedil;as est&atilde;o saindo da fase de alfabetiza&ccedil;&atilde;o com pouca profici&ecirc;ncia em leitura, matem&aacute;tica e escrita, assim, as chances que t&ecirc;m de prosseguir com sucesso os seus estudos v&atilde;o se estreitando &agrave; medida que seguem o fluxo escolar. Abandono, repet&ecirc;ncia e fracasso tornam-se, principalmente nas regi&otilde;es Norte e Nordeste, uma alternativa quase obrigat&oacute;ria para a grande maioria delas.&nbsp;</p> </div> <div align="justify"> <p>Pior do que esta anatomia, &eacute; a certeza de que estamos muito distantes da possibilidade de construirmos consensos m&iacute;nimos quanto &agrave;s alternativas de solu&ccedil;&atilde;o dos problemas, que, a esta altura, impactam profundamente a estrutura do federalismo brasileiro, em sua ponta mais fr&aacute;gil, os pequenos munic&iacute;pios das regi&otilde;es mais pobres do pa&iacute;s.</p> </div> <div align="justify"><strong><em>Washington Bonfim -&nbsp;Prof. da UFPI</em></strong></div> <div align="justify">&nbsp;</div>
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