ARTIGO
"Justiça não é número, tem que ser solução"
Por Carlos Hamilton Bezerra Lima Juiz de Direito no Estado do Piauí e Vice-Presidente da ANAMAGES – Associação Nacional de Magistrados Estaduais.
Da Redação - 17/10/2011

<p align="justify"><span data-scaytid="1" data-scayt_word="Ningu&eacute;m">Ningu&eacute;m</span> <span data-scaytid="2" data-scayt_word="ignora">ignora</span> <span data-scaytid="3" data-scayt_word="que">que</span> em <span data-scaytid="4" data-scayt_word="todos">todos</span> <span data-scaytid="5" data-scayt_word="os">os</span> <span data-scaytid="6" data-scayt_word="pa&iacute;ses">pa&iacute;ses</span> do <span data-scaytid="8" data-scayt_word="mundo">mundo</span> a <span data-scaytid="9" data-scayt_word="justi&ccedil;a">justi&ccedil;a</span> <span data-scaytid="11" data-scayt_word="seja">seja</span> <span data-scaytid="12" data-scayt_word="morosa">morosa</span>, <span data-scaytid="13" data-scayt_word="neste">neste</span> <span data-scaytid="14" data-scayt_word="ou">ou</span> <span data-scaytid="17" data-scayt_word="naquele">naquele</span> <span data-scaytid="18" data-scayt_word="grau">grau</span>, em canto <span data-scaytid="19" data-scayt_word="algum">algum</span> <span data-scaytid="20" data-scayt_word="da">da</span> terra a <span data-scaytid="10" data-scayt_word="justi&ccedil;a">justi&ccedil;a</span> age <span data-scaytid="23" data-scayt_word="como">como</span> <span data-scaytid="24" data-scayt_word="rel&acirc;mpago">rel&acirc;mpago</span>, <span data-scaytid="25" data-scayt_word="mesmo">mesmo</span> nos <span data-scaytid="7" data-scayt_word="pa&iacute;ses">pa&iacute;ses</span> <span data-scaytid="26" data-scayt_word="europeus">europeus</span>, na &Aacute;sia <span data-scaytid="15" data-scayt_word="ou">ou</span> Am&eacute;rica do Norte, <span data-scaytid="16" data-scayt_word="ou">ou</span> em qualquer continente o estigma <span data-scaytid="21" data-scayt_word="da">da</span> lentid&atilde;o judici&aacute;ria n&atilde;o &eacute; monop&oacute;lio apenas <span data-scaytid="22" data-scayt_word="da">da</span> terra <em>brasilis</em>.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">H&aacute; anos se discute a morosidade judicial e suas causas e solu&ccedil;&otilde;es j&aacute; foram divulgadas em centenas de congressos jur&iacute;dicos ao longo de d&eacute;cadas: excessos de prazos, formalismos exacerbados, quantidade enorme de recursos processuais, privil&eacute;gios das fazendas p&uacute;blicas, munic&iacute;pios, estados e uni&atilde;o, falta de infra-estrutura material e humana, esta quase sempre desqualificada e resistente a inova&ccedil;&otilde;es, para citar algumas.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">O fato parece remeter &agrave; f&aacute;bula dos ratos a discutir o problema do gato, <span data-scaytid="27" data-scayt_word="todos">todos</span> parecem saber <span data-scaytid="28" data-scayt_word="ou">ou</span> apontar a solu&ccedil;&atilde;o de colocar quizo no pesco&ccedil;o do bichano, mas poucos t&ecirc;m sido <span data-scaytid="29" data-scayt_word="os">os</span> <span data-scaytid="30" data-scayt_word="que">que</span> se apresentaram &agrave; dif&iacute;cil tarefa.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">A culpa dos ju&iacute;zes, &eacute; preciso que se diga, tem sido m&iacute;nima, justi&ccedil;a lhes seja feita. Eles cumprem o que est&aacute; posto. A grande maioria trabalha inclusive aos s&aacute;bados, domingos e feriados, e acreditem, outros tantos usam &agrave;s f&eacute;rias para julgar. N&atilde;o fazem leis, n&atilde;o administram pres&iacute;dios, n&atilde;o nomeiam, nem contratam. N&atilde;o foram remetidos estes assessores ou n&uacute;mero suficiente em &nbsp;material &nbsp;e recursos humanos qualificados, desej&aacute;veis &agrave; personifica&ccedil;&atilde;o da justi&ccedil;a. O juiz, pe&ccedil;a fundamental, foi esquecido por completo ao longo dos anos, &ndash; e n&atilde;o h&aacute; evid&ecirc;ncia de aten&ccedil;&atilde;o na reforma do judici&aacute;rio -, e hoje, est&atilde;o sendo cobrados a exaust&atilde;o, como se fossem o cajado de Mois&eacute;s a abrir&nbsp; solu&ccedil;&atilde;o para tudo para o que n&atilde;o deram causa.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">A culpa &nbsp;repita-se mais uma vez, na maioria esmagadora das vezes est&aacute; numa legisla&ccedil;&atilde;o anacr&ocirc;nica, vetusta, que quando inova, parece olvidar por completo a condi&ccedil;&atilde;o de trabalho dos magistrados, como se o processo fosse algo simples, como a colocar uma roupa suja numa m&aacute;quina de lavar e dali sair pronta, inclusive passada. Neste particular o legislativo pouco concorreu para avan&ccedil;o do judici&aacute;rio. Uma postura mais firme e direcionada a um poder judicante mais independente e pragm&aacute;tico, pouco tem se revelado em efeitos concretos ao povo, real destinat&aacute;rio da presta&ccedil;&atilde;o jurisdicional.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">N&atilde;o se pode olvidar id&ecirc;ntica postura ao executivo &ndash; um dos maiores clientes do judici&aacute;rio -, seja como autor ou como r&eacute;u, as infra&ccedil;&otilde;es &agrave; lei por este assoberbam as prateleiras da mais min&uacute;scula comarca ao Supremo Tribunal Federal; quem esquece que num &uacute;nico dia mais de dez mil a&ccedil;&otilde;es neste pa&iacute;s foram ajuizadas quando do plano Collor? No frigir dos ovos, o Estado concorre para a quantidade necess&aacute;ria de ju&iacute;zes proporcional a seu n&uacute;mero de habitantes? Neste particular, aqui somos triste exclusividade no mundo, um magistrado para cada vinte e tr&ecirc;s mil habitantes, uma verdadeira ilha, sob um cipoal de leis e infra&ccedil;&otilde;es por todos os lados em canto nenhum do globo jamais testemunhado.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">Que n&atilde;o se descure tamb&eacute;m o or&ccedil;amento anual previsto ao judici&aacute;rio. Quem desconhece as constantes diverg&ecirc;ncias, sen&atilde;o arranh&otilde;es pol&iacute;tico-institucionais, quando do dito or&ccedil;amento, sempre diminutos e podados pelos outros dois poderes? Ora o Judici&aacute;rio n&atilde;o faz leis e nem tem a bolsa, aquelas s&atilde;o com o legislativo e esta com executivo; o judici&aacute;rio det&eacute;m apenas e t&atilde;o somente a espada, instrumento que vez por outra querem tomar ou impor r&eacute;deas a esgrim&iacute;-la, e ent&atilde;o, como sabemos a democracia sempre corre perigos.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">&Eacute; de suma import&acirc;ncia que a justi&ccedil;a seja c&eacute;lere e d&ecirc; a resposta ao direito da parte em tempo razo&aacute;vel, todos queremos isso e os ju&iacute;zes est&atilde;o comprometidos com este desiderato, entretanto, temos visto nos &uacute;ltimos tempos uma preocupa&ccedil;&atilde;o unicamente com n&uacute;meros para solu&ccedil;&atilde;o do processo, ali&aacute;s, com referenciais e escore percentuais para a senten&ccedil;a. A provid&ecirc;ncia tem bons prop&oacute;sitos, at&eacute; faz sentido, entretanto por mais que seja o anseio dos pais em conhecer a crian&ccedil;a, esta n&atilde;o pode ser arrancada do ventre da m&atilde;e a qualquer tempo e modo, no m&iacute;nimo princ&iacute;pios e circunst&acirc;ncias m&eacute;dicas a cada caso urge sejam observadas, e ainda que esteja passada da hora de nascer, &eacute; que os meios e cuidados maiores devam ser observados, sen&atilde;o, mata-se a m&atilde;e e o filho.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">N&atilde;o se julga um processo, m&aacute;xime os antigos, conduzidos quase sempre por outros ju&iacute;zes que o antecederam, sem que seja lido e avaliadas as provas e o direito com muita acuidade, n&atilde;o se cuida de algo simples que o magistrado pudesse apenas ditar sem meias palavras, este defiro, aquele n&atilde;o, este condeno, o outro absolvo. O direito e a justi&ccedil;a n&atilde;o se operam dessa forma.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">A democracia precisa sobreviver, &iacute;dem o bem comum e a pacifica&ccedil;&atilde;o de conflitos, mas por um judici&aacute;rio justo, coerente e s&aacute;bio na avalia&ccedil;&atilde;o das provas, obediente &agrave;s leis e princ&iacute;pios jur&iacute;dicos &iacute;nsitos da decis&atilde;o judicial respectiva, e isso n&atilde;o se faz como quem se busca um recorde, sob pena de fazer exatamente o contr&aacute;rio&nbsp; a que se prop&otilde;e.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">A justi&ccedil;a n&atilde;o s&atilde;o n&uacute;meros, nem &eacute; compat&iacute;vel e nem deve se comprazer com estat&iacute;sticas, se faz sim pela satisfa&ccedil;&atilde;o das partes, com justeza, &nbsp;e isso somente pode acontecer se instrumentalidade for dada ao judici&aacute;rio, caso contr&aacute;rio vamos ficar ouvindo o j&aacute; in&oacute;cuo e repetitivo discurso de uma dial&eacute;tica que a nada serve se n&atilde;o for acompanhada de a&ccedil;&atilde;o. A&ccedil;&atilde;o, pois &eacute; o que basta; o tempo, &eacute; agora. Que os ju&iacute;zes sejam r&aacute;pidos, mas que essa urg&ecirc;ncia n&atilde;o os imponha&nbsp; ou exponha a injustos.</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify">&nbsp;</p> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify"><strong>Por Carlos Hamilton Bezerra Lima </strong><br /> Juiz de Direito no Estado do Piau&iacute; e Vice-Presidente da ANAMAGES &ndash; Associa&ccedil;&atilde;o Nacional de Magistrados Estaduais.</p> <p align="justify">Cidadesnanet.com</p>
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