ARTIGO
O DRAMA DA SECA
Artigo do livro Memórias do Tempo, do autor Edimar Luz, que é escritor/cronista, poeta, professor e sociólogo.
Da redação - 07/01/2012

<div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify"><strong>&nbsp;(*) Edimar Luz &eacute; escritor/cronista, poeta, professor e soci&oacute;logo&nbsp;<strong>&nbsp;</strong></strong></div> <div align="justify"><strong><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></strong></div> <div align="justify">&nbsp;</div> <p align="justify"><span>A famigerada seca do Nordeste, apesar de ser evidentemente um fen&ocirc;meno clim&aacute;tico, apresenta-se, na realidade, tamb&eacute;m como um fato social que tem marcado constante e profundamente a sociedade rural nordestina ao longo do tempo.</span></p> <p align="justify"><span>Desse modo, podemos afirmar que a causa fundamental da seca &eacute; realmente o clima, ou seja, a falta da ben&eacute;fica precipita&ccedil;&atilde;o que chamamos de chuva. Todavia, o problema da seca no Nordeste vai al&eacute;m dessa mera afirmativa. A seca tornou-se um processo social gerado pela lament&aacute;vel escassez peri&oacute;dica de chuvas ou pela aus&ecirc;ncia ou reduzida precipita&ccedil;&atilde;o pluviom&eacute;trica nos meses em que todos aqui esperam o inverno.</span><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></p> <div align="justify"><span>Segundo informa&ccedil;&otilde;es, a maior seca ocorrida at&eacute; hoje no Nordeste, foi a que eclodiu no per&iacute;odo de 1877 a 1879, quando morreram cerca de 500 mil pessoas. Mas, no s&eacute;culo XX, tamb&eacute;m ocorreram in&uacute;meras e grandes secas, as quais castigaram impiedosamente a sofrida popula&ccedil;&atilde;o sertaneja.</span><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></div> <p align="justify"><span>&Eacute; bom lembrar aqui tamb&eacute;m que a &aacute;gua &eacute; a maior riqueza natural do espa&ccedil;o piauiense. Por isso, ela deve ser tratada e cuidada com muito carinho e sensatez.&nbsp;</span></p> <div align="justify"><span>A seca e o sofrimento do nordestino do Sert&atilde;o foram t&atilde;o bem retratados por escritores, por poetas, por compositores e cantores como o saudoso Rei do Bai&atilde;o, Luiz Gonzaga, atrav&eacute;s de suas bonitas e nost&aacute;lgicas m&uacute;sicas, como as famosas Asa Branca, A Triste Partida, Aquarela Nordestina, A Volta da Asa Branca e tantas outras, numa impec&aacute;vel interpreta&ccedil;&atilde;o.</span><span>&nbsp; </span></div> <p align="justify"><span>Conta-se que desde antigamente, as estradas do Sert&atilde;o ficavam, por ocasi&atilde;o das secas, repletas de retirantes, que iam se arrastando, fugindo do calv&aacute;rio da mis&eacute;ria, havendo entre esses, muitas v&iacute;timas que ca&iacute;am desfalecidas e inanimadas, por n&atilde;o suportarem a fome e as fadigas sob um sol causticante e a dura&ccedil;&atilde;o da &aacute;rdua viagem. Nessas circunst&acirc;ncias a situa&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o sertaneja &eacute; terrivelmente dram&aacute;tica.</span></p> <div align="justify"><span>&nbsp;Somente a partir da seca que durou de 1951 a 1953, teve in&iacute;cio o transporte de nordestinos sertanejos no desconfort&aacute;vel tipo de caminh&atilde;o denominado &quot;pau-de-arara&quot;, quando milhares de flagelados de v&aacute;rias regi&otilde;es do Nordeste foram transportados de forma desumana para os long&iacute;nquos campos de outras regi&otilde;es do pa&iacute;s, assim como para cidades distantes, especialmente S&atilde;o Paulo e regi&atilde;o.</span></div> <p align="justify"><span>&nbsp;</span><span>A &aacute;rea nordestina atingida pela seca varia, &agrave;s vezes, de ano para ano. Todavia, existe uma parte identificada como o Pol&iacute;gono das Secas, onde o fen&ocirc;meno &eacute; mais constante e mais terr&iacute;vel. A &aacute;rea do Pol&iacute;gono, que pode ser considerada como o Tr&oacute;pico semi-&aacute;rido, n&atilde;o apresenta uniformidade, compreendendo, como se sabe, por&ccedil;&otilde;es mais ou </span>menos chuvosas, mais ou menos expostas &agrave;s angustiantes secas peri&oacute;dicas.</p> <div align="justify"><span>Cumpre lembrar que o Nordeste &eacute; visivelmente uma regi&atilde;o cheia de evidentes contrastes. Est&aacute; subdividida em quatro &aacute;reas ou sub-regi&otilde;es bem definidas: Zona da Mata, Agreste, Sert&atilde;o e Meio-Norte. A Zona do Sert&atilde;o, situada no semi-&aacute;rido, &eacute; a sub-regi&atilde;o nordestina de maior extens&atilde;o e sujeita a secas freq&uuml;entes, pois, na realidade, as chuvas nesta parte do Nordeste s&atilde;o, como j&aacute; ressaltei, por demais escassas e irregulares, e onde a seca existe, a situa&ccedil;&atilde;o se torna bastante cr&iacute;tica, com conseq&uuml;&ecirc;ncias dr&aacute;sticas e comoventes.</span></div> <p align="justify"><span>&nbsp;</span><span>&Eacute; preciso perceber que a caatinga, dominante no Nordeste semi-&aacute;rido, &eacute; formada de associa&ccedil;&otilde;es vegetais adaptadas &agrave; semi-aridez do clima escaldante da regi&atilde;o, perdendo as folhas na esta&ccedil;&atilde;o seca. Muitas destas plantas se caracterizam por apresentar uma infinidade de espinhos; s&atilde;o, portanto, plantas espinhentas e xer&oacute;fitas.</span></p> <div align="justify"><span>Outro processo social que se observa claramente quando eclode no nosso sert&atilde;o nordestino uma seca, &eacute;, na verdade, a emigra&ccedil;&atilde;o, digamos assim, urgente e for&ccedil;ada de seus mais carentes habitantes, os retirantes. Portanto, ao paralisar a economia rural, e, consequentemente, dificultar por demais o abastecimento normal das nossas popula&ccedil;&otilde;es rur&iacute;colas ou camponesas, a seca impiedosa e devastadora eleva a n&iacute;veis insuport&aacute;veis a fome, o desemprego, as necessidades do nosso povo... </span></div> <p align="justify"><span>&nbsp;</span><span>Cumpre tamb&eacute;m destacar que o Nordeste &eacute; a segunda maior regi&atilde;o brasileira em popula&ccedil;&atilde;o, possuindo quase um ter&ccedil;o da popula&ccedil;&atilde;o do pa&iacute;s, sendo superado somente pela regi&atilde;o Sudeste.</span></p> <div align="justify"><span>&Agrave; guisa de exemplo, destaco aqui que no ano de 1932, a nossa regi&atilde;o de Picos foi afetada e flagelada por uma seca devastadora que assolou nosso ch&atilde;o sertanejo, que culminou com a perda quase total das planta&ccedil;&otilde;es e do gado, al&eacute;m do inevit&aacute;vel sofrimento humano. Mas, salvou-se Picos, gra&ccedil;as &agrave; exist&ecirc;ncia maravilhosa e providencial do nosso rio Guaribas, que felizmente funcionava, nessas circunst&acirc;ncias, como um verdadeiro o&aacute;sis em meio a este sert&atilde;o seco e de sol causticante e escaldante. Foram muitas, por&eacute;m, as grandes secas que j&aacute; castigaram a nossa regi&atilde;o de Picos, ao longo do tempo. Picos, Munic&iacute;pio Modelo, Capital do Centro-Sul Piauiense, Princesa do Vale do Guaribas e do Sert&atilde;o Piauiense. Picos, Cidade Sertaneja... Que reluz progressiva e majestosamente sob o inclemente Sol do Equador.&nbsp;</span></div> <p align="justify"><span>Em &uacute;ltima inst&acirc;ncia, quero aqui ressaltar que este meu artigo de 26 de agosto de 1993 faz parte do meu livro <em>Mem&oacute;rias do Tempo, </em>j&aacute; tendo sido, inclusive, publicado em v&aacute;rios jornais da cidade de Picos, desde aquele ano: Tribuna de Picos/Tribuna do Povo, Jornal de Picos, Total Informativo e outros...&nbsp;Direitos reservados ao autor. </span></p> <div align="left">(*) Edimar Luz &eacute; escritor/cronista, poeta, professor e soci&oacute;logo formado em Recife &ndash; PE.</div> <div align="left">Picos, 26 de agosto de 1993. Do livro <em>Mem&oacute;rias do Tempo</em>, do autor Edimar Luz.<span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></div> <p align="left"><span>Picos, 26 de agosto de 1993.</span></p> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">&nbsp;</div>
Luís Evêncio da Luz
16/03/2012 -16:32:

Parabéns pelo excelente artigo Edimar. Sua sabedoria e interesse pelo regionalismo enaltecem a cultura nordestina. Quando leio seus artigos e crônicas me sinto muito bem.

Manuel Sousa
31/01/2012 -12:33:

Quando a gente lê coisas falando da seca do nordeste a gente chega até se emocionarlembrando do sofrimento das pessoas e do gado e das plantas e de tudo que padece. Quero aqui também parabenizar sinceramente esse grande escritor de nome Edimar Luz que fdez este excelente artigo falando da história seca.

Júnior
25/01/2012 -15:32:

A história da seca no Nordeste foi muito bem escrita aqui pelo escritor Edimar Luz que está de parabéns por tão bom artigo.

Patrícia Luz
19/01/2012 -13:31:

Este artigo do Dr. Edimar Luz é uma maravilha. Gosto muito de ler suas crônicas, que me fazem tão bem. Obrigada!!

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