ARTIGO
Francisco Miguel de Moura – Sinônimo de Literatura
Artigo de Gilson Chagas, escritor e professor universitário em Brasília-DF, autor de 2 romances e um livro de poemas.
Gilson Chagas - 01/10/2012

<div align="justify">Em 1973, a publica&ccedil;&atilde;o de meu primeiro livro me propiciava, entre outras&nbsp;alegrias, a chance&nbsp;de conhecer, em pessoa,&nbsp;alguns dos expoentes da imprensa e letras do meu estado natal, o Piau&iacute;. Com o encantamento do quase adolescente que se v&ecirc; diante de seus mitos, pude, enfim, entrevistar-me, num plano favor&aacute;vel, com &nbsp;Carlos Said &ndash; o legend&aacute;rio &ldquo;magro de a&ccedil;o&rdquo; - &nbsp;que se tornara padrinho e divulgador &nbsp;de minhas &nbsp;colabora&ccedil;&otilde;es ao seu programa &nbsp;&ldquo;poesias do Piau&iacute;&rdquo;, na R&aacute;dio Pioneira de Teresina. Inestim&aacute;vel apoio recebi de Herculano Moraes, j&aacute; poeta de renome e secret&aacute;rio de reda&ccedil;&atilde;o do jornal O Estado, concorrente de O Dia na lideran&ccedil;a jornal&iacute;stica regional. &nbsp;Encontrei generosa acolhida em A. Tito Filho, &iacute;cone da cultura, em&eacute;rito incentivador dos autores iniciantes e eterno presidente da Academia Piauiense de Letras. Conservo, ainda indel&eacute;veis, preciosas li&ccedil;&otilde;es de Fontes Ibiapina, em nosso encontro de apresenta&ccedil;&atilde;o, na casa de seu irm&atilde;o Pebinha, na cidade de Picos. Daquela primeira conversa que, ao lado do hoje destacado jurista e poeta Ozildo Barros, tive com o not&aacute;vel escritor, pincei a enf&aacute;tica afirmativa que ele ali fizera sobre Francisco Miguel de Moura. Este, a quem eu conhecia de Santo Ant&ocirc;nio Lisboa e, &agrave; &eacute;poca, j&aacute; com 3 &nbsp;livros &nbsp;na pra&ccedil;a,&nbsp;era nome emergente na literatura do estado. Dentro de um contexto mais amplo, disse-nos Fontes Ibiapina, sem reserva: - O livro de Chico Miguel, Linguagem e Comunica&ccedil;&atilde;o em O.G Rego de Carvalho, &eacute; t&atilde;o bom quanto a pr&oacute;pria obra por ele analisada. <span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></div> <div align="justify"><span>O veredicto de Fontes &ndash; doutor da lei e das letras - era apenas um minirretrato de uma carreira em come&ccedil;o - alvissareiro por excel&ecirc;ncia. No curso destas d&eacute;cadas subsequentes, a obra de Chico Miguel expandiu-se e aperfei&ccedil;oou-se. Cresceu em n&uacute;mero e profundidade; abriu-se para variados g&ecirc;neros; diversificou-se. &nbsp;&nbsp;&nbsp;Lan&ccedil;ou ele at&eacute; aqui (2012) 33 livros: 15 de poesias, 4 romances, 3 volumes de contos, 2 volumes de cr&ocirc;nicas, 7 de cr&iacute;tica ou hist&oacute;ria liter&aacute;ria, 1 biografia, 1 memorial, sem contar op&uacute;sculos de cr&iacute;tica, depoimento e discursos. Al&eacute;m destes, h&aacute; milhares de artigos espalhados por jornais e revistas do Brasil e do exterior. &nbsp;Como diria Z&eacute; da Luz, o poeta do absurdo, ele est&aacute; na &ldquo;oropa, Fran&ccedil;a e Brasil&rdquo;. </span></div> <div align="justify"><span>Pelo esmero e densidade dos textos em prosa ou verso e de sua milit&acirc;ncia &nbsp;quase religiosa em favor da literatura, &nbsp;tem&nbsp;sido&nbsp;fartamente &nbsp;estudado e saudado pela cr&iacute;tica qualificada; &nbsp;lido e aplaudido pelos &nbsp;n&uacute;cleos seletos aonde sua cria&ccedil;&atilde;o tem conseguido chegar. Tornou-se, enfim, nesses anos, referencial e fonte para pesquisas, dentro e fora do Piau&iacute;. &Eacute; tamb&eacute;m analista e prefaciador concorrido por autores novos e veteranos</span></div> <div align="justify"><span>&nbsp;Infelizmente, contudo, por fatores abstratos - cuja exist&ecirc;ncia e efeitos o bicho-homem - admita ou conteste - n&atilde;o pode controlar &ndash; a obra de Chico Miguel n&atilde;o tem recebido tratamento justo do grande mercado editorial brasileiro, qui&ccedil;&aacute;, internacional. &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;Juntam-se, por certo, a esses &ldquo;fatores incontrol&aacute;veis&rdquo; algumas causas vis&iacute;veis, como os hist&oacute;ricos estigmas que, no curso dos s&eacute;culos, operam e perduram contra as regi&otilde;es e unidades federativas de menor express&atilde;o socioecon&ocirc;mica, que &ldquo;a roda dos escarnecedores&rdquo; (des)classifica como &ldquo;longe demais das capitais&rdquo;. Esses cr&ocirc;nicos preconceitos - absurdos mas palp&aacute;veis - por um sistema perverso de transfer&ecirc;ncia, acabam obscurecendo a arte&nbsp;produzida em estados como o nosso e limitam os horizontes &nbsp;dos talentos &nbsp;que, &nbsp;pelos v&aacute;rios motivos, neles permanecem. Raras foram at&eacute; aqui as exce&ccedil;&otilde;es que conseguiram &ldquo;escapar&rdquo; a esse cerco. </span></div> <div align="justify"><span>&nbsp;O fato &eacute; que, embora muito bem difundido nos dom&iacute;nios regionais, o nome de Chico Miguel, se n&atilde;o &eacute; exatamente in&eacute;dito no restante do pa&iacute;s &ndash; posto ter o respeito de grupos espec&iacute;ficos - ainda n&atilde;o alcan&ccedil;ou os grandes contingentes que consomem cultura al&eacute;m de suas habituais fronteiras.&nbsp;Precisa ser (urgentemente) &ldquo;descoberto&rdquo; pelas editoras ditas &ldquo;top&rdquo;, para ser &ldquo;apresentado&rdquo; &agrave; grande massa. Pois no segmento editorial que reina no mercado imperam alguns enigmas e paradoxos. Exemplo: embora o livro constitua a &ldquo;mat&eacute;ria-prima&rdquo; dessas empresas, a qualidade liter&aacute;ria da obra n&atilde;o garante sua sele&ccedil;&atilde;o. E &ndash; pasme-se! &ndash; &agrave;s vezes, atrapalha.&nbsp;H&aacute; mais crit&eacute;rios e interesses entre o teto e o piso das engrenagens humanas do que sup&otilde;e nossa v&atilde; filosofia. E esses descompassos t&ecirc;m gerado alguns mostrengos sociais. Exemplo disso &eacute; o JUQUINHA ASS (bumbum) MUSIC, santo do pau oco que vem &ldquo;surfando numa onda&rdquo;, arrasta multid&otilde;es, fez escola e fortuna, virou celebridade. Enquanto isso, o genial Z&eacute; da Silva, que atravessou a vida real &ldquo;num rabo de foguete&rdquo;, deixou toneladas de grande fic&ccedil;&atilde;o, mas nunca teve, nem ter&aacute; um grama de reconhecimento. Melhor &ldquo;sorte&rdquo; mereceram Jo&atilde;o Sebasti&atilde;o e Vicente. Um m&uacute;sico, outro artista pl&aacute;stico. Ambos ouviram sonoros muxoxos dos contempor&acirc;neos, tocaram em brancas nuvens suas vidas quadradas, mas acabaram &ldquo;consagrados&rdquo; na posteridade.&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></div> <div align="justify"><span>&nbsp;Cabe, por fim, instar o empresariado do livro a abrir uma p&aacute;gina de seu cat&aacute;logo para autores como Francisco Miguel de Moura, escritor de nome simples, que &eacute; sin&ocirc;nimo de literatura no Piau&iacute; desde 1966. Este, o ano de &ldquo;Areias&rdquo;, sua poesia de estreia. A bibliografia de Chico, criada em padr&otilde;es de excel&ecirc;ncia, teve, at&eacute; aqui, seu potencial mercadol&oacute;gico subutilizado em edi&ccedil;&otilde;es independentes e pequenas tiragens de programas governamentais. Ela e ele aguardam apenas um &ldquo;banho&rdquo; de editora, distribui&ccedil;&atilde;o e m&iacute;dia, para ocuparem, afinal, o patamar liter&aacute;rio que lhes &eacute; de direito.</span></div> <div align="justify"><span>Os leitores torcemos para que essa injusti&ccedil;a - que j&aacute; est&aacute; perpetrada &ndash; n&atilde;o se perpetue. &nbsp;E, &ldquo;para o bem de todos e felicidade geral da na&ccedil;&atilde;o&rdquo;, que essa obra singular possa ter suas fronteiras rompidas, para tornar-se, afinal, legitimamente possu&iacute;da e plenamente desfrutada por seus donos verdadeiros, a massa leitora desta gera&ccedil;&atilde;o. </span></div> <div align="justify">&nbsp;<span>&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">*Gilson Chagas, escritor e professor universit&aacute;rio em Bras&iacute;lia-DF, autor de 2 romances e um livro de poemas, al&eacute;m de v&aacute;rias obras acad&ecirc;micas no ramo de Ci&ecirc;ncias Cont&aacute;beis.</div>
francelina macedo
02/10/2012 -16:05:

Parabens pelo artigo, Gilson. Como sempre, meu confrade é bem situado e oportuno em suas colocações. Também somos gratos a este veículo pela divulgação da nossa literatura.

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