Artigo
Os velho Carros-de–Boi
Até os primeiros anos da década de 1970, era muito comum se observar os carros-de-boi circulando pelas roças, estradas, becos e sinuosas veredas da nossa região de Picos
Edimar Luz - 29/10/2012

<div align="justify">Inicialmente, conv&eacute;m lembrar que o carro-de-boi, utilizado como ve&iacute;culo de transporte de carga, foi introduzido no Brasil-Col&ocirc;nia, no s&eacute;culo XVI, na &eacute;poca da sociedade / economia a&ccedil;ucareira para servir de transporte de cana, dos canaviais at&eacute; os engenhos, al&eacute;m de outros fins, e permaneceu ativo em fazendas e engenhos do pa&iacute;s at&eacute; a segunda metade do s&eacute;culo XX.</div> <div align="justify">Os carros-de-boi, meio de transporte extremamente importante para a hist&oacute;ria econ&ocirc;mica do Brasil, foram se tornando escassos em todo o mundo a partir da segunda metade do s&eacute;culo XX; embora em determinadas regi&otilde;es de agricultura rudimentar ainda venham servindo como meio de transporte de carga. Na verdade, o Brasil &eacute; um pa&iacute;s que apresenta grandes contrastes, e apesar de estarmos vivendo em plena era dos modernos meios de transporte, muitas &aacute;reas long&iacute;nquas do nosso imenso territ&oacute;rio dependem ainda de carro&ccedil;as, de tropas de burros e jegues ou dos antigos carros-de-boi. Por isso pode-se afirmar que a moderniza&ccedil;&atilde;o dos meios de transporte n&atilde;o eliminou por completo o emprego do carro-de-boi em alguns pontos da zona rural brasileira.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Entretanto, cumpre lembrar que, aqui em nossa regi&atilde;o de Picos, esse tipo de transporte, que faz parte da realidade hist&oacute;rica do nosso povo, h&aacute; muito desapareceu, talvez por ser considerado hoje obsoleto e incompat&iacute;vel com nossa &eacute;poca. &Eacute; que em &eacute;pocas passadas se tratava de um cen&aacute;rio rural, muito diferente do que &eacute; hoje.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Vale lembrar tamb&eacute;m que por fazer um barulho caracter&iacute;stico durante a marcha, o carro-de-boi, em algumas regi&otilde;es do Brasil ganhou tamb&eacute;m o apelido de carro cantador. Ali&aacute;s, esse barulho, que antigamente podia ser ouvido num raio de pelo menos um quil&ocirc;metro (naquela &eacute;poca aqui em nossa regi&atilde;o n&atilde;o havia polui&ccedil;&atilde;o sonora), apresenta tamb&eacute;m um cheiro caracter&iacute;stico que resultante da fric&ccedil;&atilde;o do eixo contra o coc&atilde;o, na altura dos gatos, uma pe&ccedil;a aderente.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Como sabemos, a cria&ccedil;&atilde;o de gado foi importante atividade no povoamento do interior do Nordeste, a partir do s&eacute;culo XVII. Da Bahia e de Pernambuco, o gado espalhou-se por todo o Sert&atilde;o nordestino. A partir da&iacute;, os bois eram utilizados em m&uacute;ltiplas tarefas, como para puxar os carros-de-bois, mover os engenhos, puxar os arados, etc.. Al&eacute;m do consumo do leite, do couro e da carne. Nesse processo de coloniza&ccedil;&atilde;o do Sert&atilde;o, o carro-de-boi tem prestado relevantes servi&ccedil;os.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">At&eacute; os primeiros anos da d&eacute;cada de 1970, era muito comum se observar os carros-de-boi circulando pelas ro&ccedil;as, estradas, becos e sinuosas veredas da nossa regi&atilde;o de Picos, transportando, sobretudo, produtos das colheitas agr&iacute;colas e/ou lenha. E assim seguiam vagarosamente tangidos pelo carreiro. E quando o carro-de-boi ia vazio, n&oacute;s meninos, sempre peg&aacute;vamos carona. Era muito bom! Saudade daqueles tempos que n&atilde;o voltam mais!</div> <div align="justify">H&aacute; de se destacar que a carga era amparada geralmente por seis ou oito fueiros, que s&atilde;o pequenas e finas estacas de madeira fincadas em cada canto e no meio lateral da mesa do carro.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">No que diz respeito &agrave; sua estrutura, o carro-de-boi, que era feito de madeira resistente, comp&otilde;e-se de duas partes, que s&atilde;o a mesa e o rodeio ou rodado (ou carroceria, eixo e rodas). &nbsp;Na mesa, est&atilde;o especialmente, o estrado e o cabe&ccedil;alho, em cuja extremidade se atrela a junta de bois para a tra&ccedil;&atilde;o, por meio dos canzis da canga, mantendo-se a junta emparelhada. Em algumas outras regi&otilde;es do interior do pa&iacute;s, usavam-se tamb&eacute;m carros-de-boi de duas juntas. Todavia, essa pr&aacute;tica &eacute; desconhecida aqui em nossa regi&atilde;o de Picos, no Piau&iacute;.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Em praticamente todas as propriedades dos habitantes e parentes agricultores, pecuaristas e fazendeiros aqui do lugar, os chamados &ldquo;mais velhos&rdquo;, existia antigamente um carro-de-boi &agrave; disposi&ccedil;&atilde;o para auxili&aacute;-los nas tarefas rurais do cotidiano, ou, ent&atilde;o, em eventuais ocasi&otilde;es, quando dele se precisasse; como, por exemplo, na casa do meu av&ocirc;, senhor Joaquim Ev&ecirc;ncio da Luz, que, assim como o meu pai, senhor Jo&atilde;o Ev&ecirc;ncio, era agropecuarista e tamb&eacute;m possu&iacute;am jipes da marca Wyllis Overland numa certa &eacute;poca, durante muitos anos. Quanta saudade!</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Naquela &eacute;poca, era comum se observar, quando em repouso, esse meio de transporte de carga (carros-de-boi) ao lado da casa dos respectivos donos, ou propriet&aacute;rios, quase sempre debaixo de uma &aacute;rvore, como a frondosa tamarineira da casa de meu av&ocirc;, aqui no bairro Ipueiras.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&Eacute; importante destacar tamb&eacute;m que na Europa, o carro-de-boi de duas rodas cheias surgiu, como se sabe, ainda no per&iacute;odo Neol&iacute;tico, sendo muito utilizado em v&aacute;rios pa&iacute;ses da &Aacute;sia e da Europa Antiga</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&Eacute; curioso notar, finalmente, que em algumas casas do interior picoense se utilizavam antigamente rodas de carro-de-boi usadas como mesa de quintal, onde geralmente se colocava tamb&eacute;m um vaso de plantas ornamentais e/ou medicinais.</div> <div align="justify">Este artigo &eacute; parte integrante do meu livro Mem&oacute;rias do Tempo. Direitos reservados.</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">Edimar Luz &eacute; escritor/cronista, memorialista, poeta, professor e soci&oacute;logo formado em Recife-PE. <span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</span></div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div>
Agripino Alves Luz Junior
01/02/2013 -23:14:

Prezado Sr. Foi um prazer ler seu artigo e quero dizer que segundo meu pai, o meu avô - Vicente da Luz, falava muito de Joaquim Luz... Penso que somos da mesma família. Prof. Agripino Luz, Dr.

carlos borges
13/11/2012 -16:01:

Legal mesmo esta crônica do dr.Edimar Luz. Também gosto muito de ler seus artigos e crônicas. São muito bons mesmo.

Patrícia Luz
31/10/2012 -13:13:

Gosto muito de ler as crônicas históricas de Edimar Luz, esse gênio e intelectual das letras, e, inclusive, meu parente. Parabéns, doutor!!

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