Até os primeiros anos da década de 1970, era muito comum se observar os carros-de-boi circulando pelas roças, estradas, becos e sinuosas veredas da nossa região de Picos
<div align="justify">Inicialmente, convém lembrar que o carro-de-boi, utilizado como veículo de transporte de carga, foi introduzido no Brasil-Colônia, no século XVI, na época da sociedade / economia açucareira para servir de transporte de cana, dos canaviais até os engenhos, além de outros fins, e permaneceu ativo em fazendas e engenhos do país até a segunda metade do século XX.</div>
<div align="justify">Os carros-de-boi, meio de transporte extremamente importante para a história econômica do Brasil, foram se tornando escassos em todo o mundo a partir da segunda metade do século XX; embora em determinadas regiões de agricultura rudimentar ainda venham servindo como meio de transporte de carga. Na verdade, o Brasil é um país que apresenta grandes contrastes, e apesar de estarmos vivendo em plena era dos modernos meios de transporte, muitas áreas longínquas do nosso imenso território dependem ainda de carroças, de tropas de burros e jegues ou dos antigos carros-de-boi. Por isso pode-se afirmar que a modernização dos meios de transporte não eliminou por completo o emprego do carro-de-boi em alguns pontos da zona rural brasileira.</div>
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<div align="justify">Entretanto, cumpre lembrar que, aqui em nossa região de Picos, esse tipo de transporte, que faz parte da realidade histórica do nosso povo, há muito desapareceu, talvez por ser considerado hoje obsoleto e incompatível com nossa época. É que em épocas passadas se tratava de um cenário rural, muito diferente do que é hoje.</div>
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<div align="justify">Vale lembrar também que por fazer um barulho característico durante a marcha, o carro-de-boi, em algumas regiões do Brasil ganhou também o apelido de carro cantador. Aliás, esse barulho, que antigamente podia ser ouvido num raio de pelo menos um quilômetro (naquela época aqui em nossa região não havia poluição sonora), apresenta também um cheiro característico que resultante da fricção do eixo contra o cocão, na altura dos gatos, uma peça aderente.</div>
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<div align="justify">Como sabemos, a criação de gado foi importante atividade no povoamento do interior do Nordeste, a partir do século XVII. Da Bahia e de Pernambuco, o gado espalhou-se por todo o Sertão nordestino. A partir daí, os bois eram utilizados em múltiplas tarefas, como para puxar os carros-de-bois, mover os engenhos, puxar os arados, etc.. Além do consumo do leite, do couro e da carne. Nesse processo de colonização do Sertão, o carro-de-boi tem prestado relevantes serviços.</div>
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<div align="justify">Até os primeiros anos da década de 1970, era muito comum se observar os carros-de-boi circulando pelas roças, estradas, becos e sinuosas veredas da nossa região de Picos, transportando, sobretudo, produtos das colheitas agrícolas e/ou lenha. E assim seguiam vagarosamente tangidos pelo carreiro. E quando o carro-de-boi ia vazio, nós meninos, sempre pegávamos carona. Era muito bom! Saudade daqueles tempos que não voltam mais!</div>
<div align="justify">Há de se destacar que a carga era amparada geralmente por seis ou oito fueiros, que são pequenas e finas estacas de madeira fincadas em cada canto e no meio lateral da mesa do carro.</div>
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<div align="justify">No que diz respeito à sua estrutura, o carro-de-boi, que era feito de madeira resistente, compõe-se de duas partes, que são a mesa e o rodeio ou rodado (ou carroceria, eixo e rodas). Na mesa, estão especialmente, o estrado e o cabeçalho, em cuja extremidade se atrela a junta de bois para a tração, por meio dos canzis da canga, mantendo-se a junta emparelhada. Em algumas outras regiões do interior do país, usavam-se também carros-de-boi de duas juntas. Todavia, essa prática é desconhecida aqui em nossa região de Picos, no Piauí.</div>
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<div align="justify">Em praticamente todas as propriedades dos habitantes e parentes agricultores, pecuaristas e fazendeiros aqui do lugar, os chamados “mais velhos”, existia antigamente um carro-de-boi à disposição para auxiliá-los nas tarefas rurais do cotidiano, ou, então, em eventuais ocasiões, quando dele se precisasse; como, por exemplo, na casa do meu avô, senhor Joaquim Evêncio da Luz, que, assim como o meu pai, senhor João Evêncio, era agropecuarista e também possuíam jipes da marca Wyllis Overland numa certa época, durante muitos anos. Quanta saudade!</div>
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<div align="justify">Naquela época, era comum se observar, quando em repouso, esse meio de transporte de carga (carros-de-boi) ao lado da casa dos respectivos donos, ou proprietários, quase sempre debaixo de uma árvore, como a frondosa tamarineira da casa de meu avô, aqui no bairro Ipueiras.</div>
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<div align="justify">É importante destacar também que na Europa, o carro-de-boi de duas rodas cheias surgiu, como se sabe, ainda no período Neolítico, sendo muito utilizado em vários países da Ásia e da Europa Antiga</div>
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<div align="justify">É curioso notar, finalmente, que em algumas casas do interior picoense se utilizavam antigamente rodas de carro-de-boi usadas como mesa de quintal, onde geralmente se colocava também um vaso de plantas ornamentais e/ou medicinais.</div>
<div align="justify">Este artigo é parte integrante do meu livro Memórias do Tempo. Direitos reservados.</div>
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<div align="justify">Edimar Luz é escritor/cronista, memorialista, poeta, professor e sociólogo formado em Recife-PE. <span> </span></div>
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