Para comentar a crise financeira mundial, o Portal O Povo convidou o economista para falar e explicar essa desaceleração da economia nos últimos dias.
<div align="justify">O entrevistado da semana é o economista e historiador José Bernardes de Lima Sobrinho, especialista em sociologia e história pela Universidade Regional do Cariri (URCA) em 2006, com formação em Licenciatura plena em História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) em 2002 e Bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) em 1985.</div>
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<div align="justify">O entrevistado tem um currículo invejável e sabe o que fala. Professor da Universidade Estadual do Piauí (Campus de Oeiras e Picos), professor da Faculdade Evangélica Cristo Rei (Núcleo de Picos, Ipiranga e Jaicós), professor da rede pública estadual do Piauí por vários anos, professor da rede pública municipal de Picos também por vários anos, palestrante da Secretaria Estadual do Trabalho do Piauí, professor de Antropologia Cultural da Faculdade R. Sá no ano de 2008, além de já ter lecionado na rede pública estadual do Ceará no período de 1982 à1984 lecionando a disciplina de técnicas comerciais no Colégio 15 de novembro.</div>
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<div align="justify">Para comentar a crise financeira mundial, o Portal O Povo convidou o economista para falar e explicar essa desaceleração da economia nos últimos dias. Segundo ele, mesmo com a queda das bolsas de valores em todo mundo e a oscilação do dólar, o comércio varejista da cidade de Picos (316 quilômetros de Teresina) deve reagir à crise financeira que afeta boa parte do mundo. Porém, a classe empresarial tem que tomar medidas para compensar possíveis perdas.</div>
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<div align="justify">Confira entrevista:</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> Primeiro qual análise você faz da crise que afetou principalmente os EUA, o coração do sistema?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> Penso que, o que estamos passando, são espasmos do capitalismo, pois desde o seu nascimento na Inglaterra no século XVIII até hoje o capitalismo sofre crises sistêmicas e cíclicas. A primeira crise foi logo após a Revolução Industrial, quando as máquinas substituíram a mão-de-obra humana. Então os trabalhadores desempregados começaram a quebrar e atear fogo nas máquinas (Ludismo).</div>
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<div align="justify">Em 1929 houve a quebra da bolsa de Nova York, e conseqüentemente desemprego em massa. O presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt, convidou o economista Keynes para elaborar um plano para a superação da crise. E Keynes elaborou um plano, o New Deal (novo acordo), falando que o capitalismo só funciona quando há pleno emprego, pois se há desemprego é necessário que o governo faça intervenção na economia. Propunha ele que o governo fizesse obras públicas.</div>
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<div align="justify">Na década de 70 e 80 do século passado, com a Crise do Petróleo, e ideologias contrárias ao capitalismo, adotou-se uma nova ordem mundial, a globalização e o neoliberalismo, capitaneado por Margaret Tatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos. Essa globalização foi inspirada num funcionário do Departamento de Estado Norte Americano, Francis Fukuiama. Dizia Fukuiama, que com o fim do comunismo no Leste europeu, havia acabado a História, pois se Marx tinha preconizado que a felicidade suprema era o comunismo, e como o comunismo tinha acabado o que restou foramas delícias do consumo que o capitalismo nos proporciona. Agora vivíamos num mundo pós-moderno, onde consumo era tudo.</div>
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<div align="justify">Essa globalização foi posta xeque mate, logo após o 11 de setembro de 2001, quando o mundo percebeu que ela, a globalização não estava incluindo os mulçumanos, o chamado Terceiro mundo, etc. Para minimizar a crise do "11 de setembro", o presidente George W. Bush pôs em funcionamento uma política de crédito de financiamento da compra da casa própria. A garantia seria apenas o próprio imóvel. A classe média americana começou a comprar casa sem olhar o seu poder aquisitivo. A imobiliária repassa a compra para os bancos, até virar uma bola de neve.</div>
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<div align="justify">Posso resumir falando que mesmo com tanto desemprego, quebra de empresas, sairemos desta crise mais humanizados e com melhores políticas sociais. Perceberemos que o mercado não é tudo, e sim qualidade de vida, saúde, Saneamento Básico, etc, com muita dignidade.</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> Em sua opinião a economia mundial vai desacelerar?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> Vão ocorrer ajustes nas economias mais desenvolvidas. Nos chamados Países Emergentes, a economia estava mais bem equacionada por isto proporcionalmente sofreremos menos do que eles, os desenvolvidos. Não podemos continuar pagando o bem estar da classe média americana. Outra coisa, nós emergentes (China, Brasil, Rússia, Coréia do Sul) estamos mais bem adaptados a esta nova ordem.</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo: </strong>Apesar do pânico na atual situação, quais medidas acha que devem ser tomadas no momento?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes: </strong>O que devemos fazer é seguir o conselho do bom e velho Keynes: Liberalismo sim, porém com uma boa dose de intervenção estatal. Keynes na sua obra “Teoria Geral do emprego, do juro e da moeda”, fala que a lei da oferta e da procura (economia de mercado) só funciona corretamente, se houver pleno emprego, caso contrário é necessário haver intervenção estatal na economia. Quando há desemprego, o governo deve adicionar mecanismos como fazer obras públicas, política tributária mais ativa, distribuição de rendimentos, redução da taxa de juro, etc. Na verdade as grandes potências já estão fazendo isto, assim também como no Brasil, o presidente Lula já tomou várias medidas para amenizar a crise. Além da bolsa família, concessão de crédito, redução de IPI para o setor automotivo, renuncia fiscal ou renegociação de dívidas federal, expansão da base monetária, etc.</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> Quanto à cidade de Picos e região como a classe empresarial, os consumidores e investidores devem se comportar? Dê algumas dicas.</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> Picos passa no momento por uma crise de identidade, pois a mesma sempre ostentou o título de “cidade modelo” sem ser, e agora que ouve mudanças políticas no plano municipal , estadual e federal nos últimos oito anos, se torna vacilante e reticente. Quero dizer com isso que a classe empresarial deve se preparar para um novo momento, que é o aporte de<strong><em><span> </span></em></strong>empresas de outros estados ou da capital. O empresário picoense não deve se intimidar, e sim enxugar a sua empresa, procurar, enquanto classe, renegociar impostos atrasados, diminuir o valor tributado de bens e serviços por ele vendido, junto aos secretários de fazenda estadual e municipal, procurar requalificar seus funcionários etc.</div>
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<div align="justify">Ao consumidor a dica é uma formula simples: <span> Renda= poupança + consumo. Ele tem de fazer(Leia-se Consumidor) suas escolhas dentro da sua renda, evitando as armadilhas do crédito fácil, pesquisando muito antes de comprar. Quanto ao investidor, Picos e região oferecem amplas possibilidades de investimento, como por exemplo, no setor hoteleiro, na área de saúde, de educação, nos transportes alternativos, na informática etc.</span></div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> Como tem observado o posicionamento do presidente Lula?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> O Lula ganhou o primeiro e o segundo mandato fazendo alianças. Ele, um socialista convicto, escolheu como vice-presidente um liberal, José de Alencar. E para comandar o Banco Central, nomeou o Deputado Federal pelo PSDB, e ex-presidente do Banco de Boston Henrique Meireles. Essa mistura ideológica até agora está dando certo. No tocante às reformas sociais ele adotou o programa “Fome Zero” do Sociólogo Betinho. Está bem melhor do que há 25 anos atrás quando o Ministro Delfim Neto dizia: “Deixa o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Existem ainda muitos brasileiros que não foram agraciados pela inclusão social, e isto é um desafio para Lula.</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> A Balança Comercial do município de Picos chegou a R$1.263.669 (um milhão, duzentos e sessenta e três mil, seiscentos e sessenta e nove reais), a melhor dos últimos dez anos. O mel foi responsável por 73,15% das exportações em 2008. Em reais o índice corresponde a R$ 935.262. Como observa esses números?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> É bom ver a apicultura, a extração da cera de carnaúba, a cajucultura, sendo carro chefe de nossas exportações. Poderá ser melhor, quando aproveitarmos melhor o nosso lençol freático na fruticultura irrigada. Mas, apesar desses números animadores, devemos pensar em progredir cada vez mais. Explico como: buscando mais incentivo junto aos governos, incentivando o cooperativismo, associativismo e políticas de incentivo e de subsídios.</div>
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<div align="justify"><strong>Portal O Povo:</strong> Para finalizar, faça uma breve análise da atual situação financeira e de desenvolvimento em que a cidade passa, com a chegada de novos investidores (ex- Comercial Carvalho)?</div>
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<div align="justify"><strong>José Bernardes:</strong> Vejo com muito otimismo. A concorrência é sempre saudável numa economia aberta. No primeiro momento há o impacto, depois vem os ajustes como a queda de preços, conscientização de que o lucro vem com a economia de escala, melhor prestação de serviços, etc.</div>
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<div align="justify">Outro dia lendo um livro do Renato Duarte, economista picoense, me chamou a atenção dele dizer que: “Picos necessita de um núcleo industrial que aumente a renda do município através de maior valor adicionado, que amplie o poder aquisitivo da população em decorrência da criação de novos empregos.” <span> Renato Duarte conclui falando do dilema do município que é o de criar uma mentalidade empreendedora no meio de tantas incertezas.</span></div>
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<p><strong>Portal O Povo:</strong> Queremos agradecer a entrevista e deixar o espaço aberto para suas considerações finais...</p>
<p><strong>José Bernardes:</strong> Quero falar das coisas boas da vida. Outro dia num diálogo com um amigo ele me disse: Zé Bernardes você leva a vida igual àquela música do Zeca Pagodinho “Deixa a vida me levar”. E eu lhe respondi: é verdade, eu levo a vida procurando um equilíbrio entre a inquietude e a pressa, entre a razão e a emoção. Não quero ser escravo do sistema. O dinheiro é bom para usufruir dele, e não para ser seu servo.</p>
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