ARTIGO DO LEITOR
Confira o artigo do professor de sociologia Edimar Luz : uma tradição secular
Edimar Luz, é escritor e professor formado em Sociologia.
Edimar Luz, - 03/06/2009

<div align="justify">O dia 03 de maio &eacute; a data em que se comemora tradicionalmente, &quot;a subida ao morro da Cruz &quot; por parte da comunidade de Ipueiras e das localidades adjacentes. N&atilde;o se trata, no entanto, de uma escalada comum, sem qualquer significado. Ao contr&aacute;rio, essa &eacute; uma comemora&ccedil;&atilde;o bastante antiga, pois ela vem ocorrendo h&aacute; muito tempo, repetindo-se a cada ano por ocasi&atilde;o da data mencionada. Por isso, representa algo de extrema import&acirc;ncia e um real e tradicional valor para todos n&oacute;s que fazemos parte da referida comunidade. Desse modo, podemos afirmar que esse evento comemorativo est&aacute; arraigado e estritamente relacionado &agrave; vida e &agrave; hist&oacute;ria do nosso povo, do nosso bairro Ipueiras, passando, portanto, a fazer parte do folclore e da cultura local.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">Cumpre lembrar que o Morro da santa Cruz, ou &quot; Quebra - pesco&ccedil;o&quot;, como &eacute; mais conhecido, apresenta, na realidade, um aspecto peculiar muito interessante, se observado ou visto de certos &acirc;ngulos: assemelha-se a uma pir&acirc;mide ligeiramente arredondada, em cujo &quot;&aacute;pice&quot; encontra-se uma cruz secular, fincada, provavelmente, em meados do s&eacute;culo XlX, com a participa&ccedil;&atilde;o dos moradores da regi&atilde;o, por certos mission&aacute;rios religiosos, numa demonstra&ccedil;&atilde;o de f&eacute;, e talvez, tamb&eacute;m, para indicar um fato tr&aacute;gico e lend&aacute;rio ali ocorrido h&aacute; muito tempo. Ali&aacute;s, &eacute; bom lembrar que a cruz &eacute; um s&iacute;mbolo de f&eacute; de todos os crist&atilde;os. Em virtude do tempo, essa antiga cruz de madeira exposta no cume do referido morro, encontra-se j&aacute; bastante desgastada e um pouco deformada, apesar de a mesma ter sido elaborada utilizando-se uma madeira altamente resistente &agrave; a&ccedil;&atilde;o de alguns agentes naturais e &agrave;s transforma&ccedil;&otilde;es do tempo. Dizem que &eacute; de aroeira, uma &aacute;rvore que conhecemos bem e que &eacute; t&iacute;pica da regi&atilde;o.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">Na verdade, existem controv&eacute;rsias quanto &agrave; origem da &quot;lenda&quot; ou hist&oacute;ria concernente ao fato ocorrido naquele morro. Entretanto, devemos considerar que a mais aceita &eacute; aquela que admite que ali, nas proximidades do bairro Ipueiras, existia antigamente o costume de se comemorar a ressurrei&ccedil;&atilde;o de Cristo, atrav&eacute;s da doa&ccedil;&atilde;o de uma r&ecirc;s, ou mais esclarecidamente, um boi, que seria campeado na serra. Todavia, um certo ano, um vaqueiro, elemento humano mais caracter&iacute;stico das chapadas do sert&atilde;o nordestino, saiu em seu cavalo, em companhia tamb&eacute;m de um cachorro(c&atilde;o) &agrave; procura da tal r&ecirc;s, quando, na persegui&ccedil;&atilde;o, todos em veloz disparada, num momento infausto, ca&iacute;ram inesperadamente num abismo ou declive abrupto que existe no morro, quebrando-lhes o pesco&ccedil;o e,&nbsp;consequentemente, os quatro tiveram morte imediata ou instant&acirc;nea. Essa r&ecirc;s era talvez um barbat&atilde;o, pois certamente uma r&ecirc;s mansa n&atilde;o esbo&ccedil;aria tamanha sagacidade. N&atilde;o &eacute; completamente infundada a id&eacute;ia de que esse fato tenha realmente acontecido. Logicamente, at&eacute; parece ser fict&iacute;cio. Ou um mito.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">No tocante &agrave; sua localiza&ccedil;&atilde;o, &eacute; importante perceber que o Morro da Santa Cruz, do &quot;Quebra - Pesco&ccedil;o&quot;, ou, ainda, Morro do Vaqueiro, fica situado a cerca de quatro quil&ocirc;metros do centro da cidade, &agrave; margem esquerda da rodovia estadual que liga Picos &agrave; cidade de Bocaina, nas proximidades do Bairro Ipueiras.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">Cumpre tamb&eacute;m destacar que, ao subir ao Morro, encontramos um cen&aacute;rio simples, mas bastante agrad&aacute;vel. Muitos rezam e alguns pagam promessas ao p&eacute; da cruz, num ato de F&eacute; Crist&atilde;. Deixavam-se, outrora, algumas pequenas oferendas pecuni&aacute;rias sobre a antiga cruz de madeira. Os mais antigos tinham o h&aacute;bito de deixar gravadas as marcas de seus p&eacute;s sobre o rochedo existente pr&oacute;ximo ao declive abrupto que fica para o sol nascente ou leste. &Eacute; ali, naquele &ldquo;piso p&eacute;treo&rdquo;, pr&oacute;ximo ao talhado, como se costuma chamar, onde se concentra a maioria das pessoas, devido ao visual ou &agrave; vista panor&acirc;mica oferecida pela paisagem, que &eacute;, sem exagero, inebriante e paradis&iacute;aca, sobretudo nos anos de bom inverno, quando toda a vegeta&ccedil;&atilde;o e planta&ccedil;&otilde;es ficam verdes e floridas; e todos contemplam aquela abrangente e bonita paisagem com aten&ccedil;&atilde;o e um certo embevecimento, sob um sol rutilante de maio e aquele vento de final de &ldquo;inverno&rdquo; a soprar suavemente, trazendo o aroma agrad&aacute;vel das flores do sert&atilde;o. A natureza condiz com o momento, que &eacute; de extrema contempla&ccedil;&atilde;o e religiosidade. Cabe aqui tamb&eacute;m lembrar que, embora possa incorrer numa certa descaracteriza&ccedil;&atilde;o, seria de extrema import&acirc;ncia a constru&ccedil;&atilde;o de uma escada com o objetivo de facilitar o acesso ao alto do Morro durante as comemora&ccedil;&otilde;es do dia 03 de maio, bem como a edifica&ccedil;&atilde;o de uma pequena capela no local da cruz, e o tombamento do Morro como patrim&ocirc;nio cultural regional, dada a import&acirc;ncia na tradi&ccedil;&atilde;o folcl&oacute;rica do munic&iacute;pio.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">Lembro-me de que, num certo ano da d&eacute;cada de setenta, um grupo de jovens do lugar escalou o Morro entoando a m&uacute;sica &ldquo;A Montanha&rdquo;, do Rei Roberto Carlos. Vale lembrar, ainda, que as comemora&ccedil;&otilde;es e as visitas em romaria local se iniciam a partir das primeiras horas da manh&atilde; do dia tr&ecirc;s de maio, ou seja, desde o alvorecer, quando s&atilde;o utilizados, inclusive, fogos de artif&iacute;cios; e todos sobem por uma vereda ou trilha sinuosa que d&aacute; acesso ao cume ou topo do Morro, num vaiv&eacute;m praticamente incessante. As comemora&ccedil;&otilde;es estendem-se at&eacute; o entardecer, quando o Morro vai-se esvaziando paulatinamente e ficando deserto at&eacute; o ano seguinte, por ocasi&atilde;o da data comemorativa. Como se pode observar, trata-se de uma comemora&ccedil;&atilde;o de certa forma um tanto simples e de car&aacute;ter religioso, mas com um grande valor cultural, hist&oacute;rico e tradicional, uma vez que &eacute; praticada com bastante aten&ccedil;&atilde;o, respeito e seriedade, repetindo-se a cada ano, de gera&ccedil;&atilde;o a gera&ccedil;&atilde;o.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify">Nas primeiras vezes que subi ao morro da Santa Cruz no &ldquo;Dia 3 de Maio&rdquo;, ainda crian&ccedil;a, eu ia na companhia do meu pai senhor Jo&atilde;o Ev&ecirc;ncio da Luz. L&aacute; do alto da eleva&ccedil;&atilde;o eu ficava a contemplar atentamente toda a vastid&atilde;o da paisagem e a vista abrangente e panor&acirc;mica do lugar, e l&aacute; distante toda a imensid&atilde;o da f&iacute;mbria do horizonte azul encimando a serra da Fachada e as chapadas deste meu sert&atilde;o nordestino; e mais pr&oacute;ximas as nossas in&uacute;meras ro&ccedil;as da regi&atilde;o.&nbsp;</div> <p align="justify">&nbsp;</p> <p align="justify"><span>Em &uacute;ltima inst&acirc;ncia quero aqui ressaltar que este artigo de minha autoria, ou seja, por mim produzido no ano de 1993 e que j&aacute; publiquei em v&aacute;rios jornais e revistas de Picos ao longo desses anos, faz parte do meu livro<strong><em> Mem&oacute;rias do tempo</em>, </strong>que estou escrevendo temporariamente desde os anos 90.</span><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></p> <div align="justify">Portanto, nos termos da lei que resguarda os Direitos Autorais (Lei 5.988, de 14/12/73), &eacute; proibida a reprodu&ccedil;&atilde;o total ou mesmo parcial deste texto sem minha permiss&atilde;o ou autoriza&ccedil;&atilde;o por escrito.</div> <div align="justify"><span>&nbsp;&nbsp; </span></div> <div align="justify"><strong><u>Edimar Luz</u></strong>, &eacute; escritor, professor e soci&oacute;logo formado em Recife (PE).</div> <div align="justify">&nbsp;</div> <div align="justify">&nbsp;</div>
Raí Junior
08/02/2011 -13:31:

Uma sociedade nunca é estéril quando dela nascem poetas como o Professor Edimar Luz, que fazem de nossas memórias inesquecíveis e embelezam a nossa cultura. Parabéns professor!

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