Em entrevista, a professora e atual presidente do COMUDE (Conselho Municipal da Pessoa com deficiência), Caline Batista, fala sobre acessibilidade, inclusão e sexualidade no universo dos deficientes físicos.
<div align="justify"><strong>Cristina Fontes: Como é que está à luta pela acessibilidade e igualdade para as pessoas com deficiência física em Picos?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Projetos existem muitos, mas nada posto em prática, algumas pessoas atentam para esse lado, até vejo boa vontade, mas como não têm certo conhecimento do que rege a ABNT com relação à acessibilidade acabam pecando pelo excesso, rampas muito altas, inclinadas, tortas, sem corrimão, o que prejudica de certa forma a autonomia da pessoa com deficiência.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: O que está faltando em Picos, nos termos de acessibilidade?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Tudo. As calçadas, umas mais altas do que as outras, não temos estabelecimentos comerciais adaptados, somente um tem adaptação legal, mas ainda não está como deveria ser, tem banheiro adaptado, mas é unissex. As pessoas tidas como normal não usam o mesmo banheiro, os deficientes também não, até pela questão de higiene.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Com relação à educação, como está à inclusão das pessoas com deficiência, principalmente visual e auditiva, nas escolas de Picos?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista: </strong>Está muito precária, as únicas instituições que lidam com pessoas com deficiência são Landri Sales, Coelho Rodrigues e APAE, mas de uma forma bem restrita. Por exemplo, para que a pessoa termine os estudos ela tem que permanecer na instituição de ensino, até pela questão da comodidade, muitos professores não tem o interesse de se capacitar em braile, em libras, para facilitar a pessoas com deficiência ao acesso as escolas nos mais diversos níveis de escolaridade, como ensino infantil, fundamental I e II, médio e superior. Então essa qualificação de professores tem prejudicado e muito a inclusão de deficientes físicos, muitas escolas inclusive se recusam receber pessoas com deficiência.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Você estará ministrando uma palestra sobre sexualidade, qual a importância de trabalhar esse tema no universo da pessoa com deficiência? </strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista: </strong>É uma forma de abrir a cabeça das pessoas com relação a esse tema. Para muitos somos assexuados, estéreis, caso a gente venha a ter filhos, esses vão ser deficientes. Outras inverdades são as pessoas com deficiência só se relacionarem amorosamente com deficientes. Então são negados os nossos direitos de sexualidade quanto à produtividade, constituição de família, além de ser também uma forma de alertar sobre um grupo de pessoas que tem interesses unicamente sexuais com a pessoa com deficiência, no caso dos <u>devotees</u>, <u>pretenders</u> e <u>wannabes</u>, onde alguns consideram como fetiches, amor ou doença.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F</strong>: <strong>O que são os Devotees, Pretenders e Wannabes?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: <u>Devotees</u> são pessoas com interesse sexual com a pessoa com deficiência, embora alguns digam que além do desejo sexual, existe a questão afetiva que se desenvolve com o passar do tempo, com a convivência. Já no caso dos <u>Pretenders</u>, eles sentem prazer sexual utilizando público ou privadamente aparelhos usados por deficientes, como cadeiras de rodas, muletas, bengalas e, se sentem bastante estimulados com essa prática, eles usam também essa técnica com uma forma de conquista para se aproximar da pessoa com deficiência se fazendo passar por deficiente. E no caso dos <u>Wannabes</u>, que quer dizer <em>querer sem o que não é</em>, além de serem devotees, querem de fato ser pessoas com deficiência e fazer de tudo para isso, até mesmo amputações.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: As pessoas com deficiência têm conhecimento do que sejam os devotees, pretenders e wannabes?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Poucas pessoas têm conhecimento disso, até mesmo porque aqui no Brasil não existem estudos nessa área. Com relação à psiquiatria e a psicologia, não existe nenhum estudo com relação à conduta atípica de pessoas que buscam no deficiente a satisfação de algum prazer sexual. Por isso muitas pessoas se tornam vítimas em potencial, porque se agarram num devotee, como se fosse uma tábua de salvação, como se fossem as únicas pessoas capazes de se interessas por elas, o que não acontece.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Em Picos há pessoas com esses comportamentos?</strong></div>
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<div align="justify">Eu creia que exista, até porque eu converso com muitas pessoas que demonstram interesse pela deficiência e, uma das características do devotee é saber como é ser deficiente, a origem da deficiência.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Como os deficientes físicos podem identificar pessoas com essa conduta?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista: </strong>Elas devemprestar atenção no tipo de conversa, se a pessoa se interessa mais pela deficiência pode ir atrás, porque ela é um devotee, alguns chegam a lhe fazer perguntas mais escabrosas possíveis, como o relacionamento sexual com a pessoa com deficiência é mais prazeroso, do que com uma pessoa tida normal, ou então se ela faz alguma coisa de extraordinário.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Você já passou por alguma situação semelhante, envolvendo esse tipo de pessoa? Se já passou, conseguiu identificar?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Já sim. Depois que comecei a pesquisar hoje eu identifico que a pessoa é um devotee.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: O próprio deficiente tem preconceito consigo mesmo, chegando até mesmo a se limitar num relacionamento amoroso?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Tem alguns casos da não aceitação da deficiência, existem alguns que já nascem com a deficiência, outros que adquirem, para muitos é mais fácil para uma pessoa que já nasceu deficiente levar isso numa boa, o que nem sempre acontece. Ás vezes a aceitação é gradual, outros se negam a aceitar a tal condição, que é o caso das pessoas que a adquirem numa certa fase da vida. Então a não aceitação faz com que eles se recusem o relacionamento com outras pessoas e também a não acessibilidade nos ambientes públicos para receber com igualdade as pessoas com deficiência.</div>
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<div align="justify"><strong>C. F: Há uma confusão das pessoas do que sejam a sensualidade e a sexualidade. Como você vê os dois conceitos?</strong></div>
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<div align="justify"><strong>Caline Batista</strong>: Muitas pessoas pensam que a sexualidade e a sensualidade é o ato sexual, eu diria que é um conjunto. A sensualidade é como se portar, um olhar, um jogo de cabelo, um charme, uma postura, que você se torne atraente e não vulgar aos olhos de quem lhe observa.</div>
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