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ESPECIAL
Reportagem especial: Mel o ouro liquido da região de Picos
Os resultados obtidos na produção permitiram ao Piauí um lugar de destaque na industria do mel no País.
Sebrae - 19/09/2008

<div align="justify">A cidade de Picos, localizada ao sul do Estado do Piau&iacute;, a 306 quil&ocirc;metros da capital Teresina, se caracterizava, nos anos de 1990, pela forte voca&ccedil;&atilde;o para a apicultura. Nessa regi&atilde;o, a atividade recebeu apoio de institui&ccedil;&otilde;es governamentais e n&atilde;o governamentais em v&aacute;rios segmentos da cadeia produtiva do mel. Apesar das muitas a&ccedil;&otilde;es de capacita&ccedil;&atilde;o e melhoria no processo produtivo, dificuldades na venda dos produtos impediam a obten&ccedil;&atilde;o de melhores ganhos.</div> <div align="justify"> <p>No ano de 2005, diante dos problemas na comercializa&ccedil;&atilde;o, o que impossibilitava uma melhor inser&ccedil;&atilde;o no mercado varejista, o senhor Ant&ocirc;nio Leopoldino Dantas Filho, 47 anos, conhecido como Sitonho, presidente da Federa&ccedil;&atilde;o das Entidades Ap&iacute;colas do Piau&iacute;, iniciou a&ccedil;&otilde;es no sentido de arregimentar os produtores de mel de Picos. A id&eacute;ia era superar as dificuldades de forma a alavancar a produ&ccedil;&atilde;o e reduzir/eliminar os intermedi&aacute;rios entre produtores e consumidores.</p> <p>A apicultura &eacute; uma das mais antigas e nobres atividades humanas. No antigo Egito, o mel era usado como alimento e medicamento. Essa atividade n&atilde;o apresenta barreiras de entradas; o investimento e a tecnologia aplicados na coleta e processamento do mel praticados at&eacute; 2006 n&atilde;o requeriam muita sofistica&ccedil;&atilde;o; al&eacute;m disso, o meio ambiente favor&aacute;vel permitia que qualquer empreendedor vislumbrasse desenvolver atividades nesse setor. Por conta disso, a apicultura passou a ser um setor de inclus&atilde;o social, alternativa para que muitas pessoas sem emprego e renda melhorassem de vida com uma atividade agrad&aacute;vel e de impacto ambiental positivo, haja vista as abelhas necessitarem da flora bem conservada.</p> </div> <div align="justify"> <p>No Brasil a apicultura surgiu com a chegada das abelhas Apis mellifera no Estado do Rio de Janeiro, por volta de 1839, vindas de Porto &ndash; Portugal. Somente em 1956, com o aparecimento da abelha africana (Apis mellifera scutellata) &eacute; que a apicultura deu seus primeiros passos.Passados alguns anos, precisamente na d&eacute;cada de 1970, a apicultura passou a crescer e se expandiu para as regi&otilde;es Norte, Nordeste e Centro-Oeste.</p> </div> <div align="justify"> <p>Os principais setores que movimentavam a economia de Picos eram o com&eacute;rcio varejista, a ind&uacute;stria, a agricultura e a pecu&aacute;ria. Na agricultura, destacava-se a produ&ccedil;&atilde;o de mandioca, arroz, milho, feij&atilde;o e castanha de caju. Na agropecu&aacute;ria, a cria&ccedil;&atilde;o de rebanhos de bovinos, su&iacute;nos e caprinos, entre outras, representava uma importante fonte de economia no munic&iacute;pio. O mel de abelha, &ldquo;ouro l&iacute;quido&rdquo; que mudou o padr&atilde;o de vida de muitos produtores, tamb&eacute;m apresentou participa&ccedil;&atilde;o significativa na economia desse munic&iacute;pio. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), em 2005, Picos possu&iacute;a 71 mil habitantes, com &Iacute;ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,703; uma cidade de clima tropical, agrad&aacute;vel e de um povo receptivo.</p> <p>O mel no Piau&iacute; chegou &agrave; cidade de Picos na d&eacute;cada de 1980 com a vinda de apicultores de outros estados, principalmente do Sudeste, com a chegada das fam&iacute;lias Wenzel e Bende. Essas pessoas vieram por um simples motivo: o excelente ambiente silvestre. Al&eacute;m disso, outros fatores influenciaram o aparecimento de novos produtores: o incentivo e a atua&ccedil;&atilde;o de &oacute;rg&atilde;os p&uacute;blicos, al&eacute;m de iniciativas de organiza&ccedil;&otilde;es n&atilde;o governamentais.</p> </div> <div align="justify"> <p>Com a chegada desses novos produtores e o apoio dessas institui&ccedil;&otilde;es, a produ&ccedil;&atilde;o de mel passou de artesanal para profissional. O crescimento da atividade ap&iacute;cola resultou em trabalhos cooperativos e de associativismo.</p> <p>Em 1985, nasceu a Cooperativa Ap&iacute;cola da Micro Regi&atilde;o de Picos (Campil), a primeira cooperativa ap&iacute;cola do Nordeste; uma excelente iniciativa, mas que enfrentou graves problemas administrativos. Os cooperados encontraram dificuldades em escolher um l&iacute;der e superar os problemas administrativos e de comercializa&ccedil;&atilde;o.</p> </div> <div align="justify"> <p>Sitonho, conhecido empreendedor local que contava com experi&ecirc;ncia na produ&ccedil;&atilde;o de mel, tinha o respeito da comunidade e assumiu a gest&atilde;o da Campil. Ele, com apoio dos demais cooperados, procurou solu&ccedil;&atilde;o para Campil e ainda dinamizou as a&ccedil;&otilde;es e o relacionamento entre os apicultores da regi&atilde;o. H&aacute; bastante tempo esse apicultor proativo vinha desenvolvendo trabalhos que beneficiavam sua cooperativa e outras da regi&atilde;o, sempre com o intuito de melhorar as condi&ccedil;&otilde;es de trabalho e de vida dos produtores de mel. Suas a&ccedil;&otilde;es tinham como refer&ecirc;ncia as pr&oacute;prias abelhas que desenvolvem suas atividades unidas em prol de um objetivo comum: produzir mel.</p> <p>O mel deu um salto exponencial na produ&ccedil;&atilde;o. Em 1950, o Brasil estava na 27&ordf; posi&ccedil;&atilde;o do ranking mundial na produ&ccedil;&atilde;o de mel e cerca de 50 anos depois ocupava a 5&ordf; posi&ccedil;&atilde;o. No intervalo de cinco d&eacute;cadas a produ&ccedil;&atilde;o passou de 4 mil toneladas/ano para 40 mil toneladas/ano; estima-se que o contingente de produtores de mel no Brasil alcan&ccedil;ou, no final de 2005, a casa das 350 mil pessoas. Dentre os fatores que contribu&iacute;ram para o aumento da produ&ccedil;&atilde;o do mel estava a excelente produtividade da abelha africanizada, o aumento da capacita&ccedil;&atilde;o, a ado&ccedil;&atilde;o de novas tecnologias e novos equipamentos. Essa produ&ccedil;&atilde;o chamou a aten&ccedil;&atilde;o de pa&iacute;ses importadores que come&ccedil;aram a comprar o mel brasileiro, transformando a vida de in&uacute;meros produtores. Nesse embalo, a regi&atilde;o Nordeste contribuiu significativamente para a produ&ccedil;&atilde;o do mel. Em 2005, o Piau&iacute; exportou US$ 3 milh&otilde;es. A evolu&ccedil;&atilde;o das exporta&ccedil;&otilde;es do mel sofreu varia&ccedil;&otilde;es, mas sempre representando boa margem na pauta de exporta&ccedil;&atilde;o brasileira e com potencial de crescimento.</p> </div> <div align="justify"> <p>O principal importador em 2005 foi a Uni&atilde;o Europ&eacute;ia, com 11,1 mil toneladas, sendo que a Alemanha (mercado altamente exigente) importou 6,2 mil toneladas.Apesar de o quadro acima apresentar bons resultados, os produtores nunca obtiveram o lucro desejado. O mel sempre foi vendido a granel, sem agrega&ccedil;&atilde;o de valor, o que dificultava melhores ganhos aos produtores.</p> </div> <div align="justify"> <p>Em mar&ccedil;o de 2005, o Projeto Apicultura Integrada e Sustent&aacute;vel (APIS) ganhou visibilidade no Piau&iacute;. Esse projeto, desmembrado do Projeto APIS/Araripe, objetivava dar sustentabilidade a toda Cadeia Produtiva da Apicultura no Estado. O APIS iniciou suas a&ccedil;&otilde;es de maneira regionalizada em 2001, transformando a realidade do semi-&aacute;rido brasileiro com a&ccedil;&otilde;es de sustentabilidade na Chapada do Araripe, com apoio para sete atividades locais e econ&ocirc;micas, dentre elas a apicultura.</p> <p>Para estreitar la&ccedil;os e formar parcerias, o Sebrae/PI convidou todas as institui&ccedil;&otilde;es envolvidas e produtores para uma reuni&atilde;o com o objetivo de conhecer melhor a situa&ccedil;&atilde;o da ind&uacute;stria do mel na regi&atilde;o. Dessa reuni&atilde;o surgiram estrat&eacute;gias de atua&ccedil;&atilde;o entre os parceiros que culminaram na cria&ccedil;&atilde;o do F&oacute;rum do Projeto. O f&oacute;rum integrava o sistema de gest&atilde;o que abrangia a implanta&ccedil;&atilde;o, monitoramento e avalia&ccedil;&atilde;o do projeto; essa a&ccedil;&atilde;o responsabilizou todos os envolvidos quanto aos resultados pretendidos.</p> </div> <div align="justify"> <p>Os apicultores da regi&atilde;o de Picos, incentivados pelo presidente da cooperativa, Sitonho, j&aacute; tinham desenvolvido uma forte cultura de coopera&ccedil;&atilde;o, observado nos trabalhos de articula&ccedil;&atilde;o desenvolvidos por ele junto &agrave;s cooperativas e empres&aacute;rios que buscaram desenvolver um ambiente favor&aacute;vel para o setor. Sitonho conseguiu, ap&oacute;s muitas reuni&otilde;es, aglutinar id&eacute;ias e a&ccedil;&otilde;es que favoreceram ainda mais a coopera&ccedil;&atilde;o entre os produtores e enfatizou sempre o modo de trabalho das abelhas, de ajuda m&uacute;tua e de coopera&ccedil;&atilde;o para competir. Essa situa&ccedil;&atilde;o deu mais fortalecimento para a empreitada.</p> <p>Os produtores foram o foco da aten&ccedil;&atilde;o e as suas necessidades foram elencadas e detalhas em um plano de a&ccedil;&atilde;o que ainda mereceu revis&otilde;es. Na &eacute;poca estavam presentes na reuni&atilde;o representantes do Sebrae/PI, da Funda&ccedil;&atilde;o Banco do Brasil, do ICCO/ Holanda, da Rede Unitrabalho5, do Unisol Brasil6, do governo do Estado, da Prefeitura de Picos, al&eacute;m de representantes de cooperativas do Piau&iacute;, Cear&aacute; e Pernambuco.</p> </div> <div align="justify"> <p>O F&oacute;rum do Projeto &eacute; composto por empresas, parceiros e institui&ccedil;&otilde;es envolvidas no projeto e analisa resultados, discute problemas e identifica solu&ccedil;&otilde;es.Rede Unitrabalho &ndash; Funda&ccedil;&atilde;o de direito privado e sem fins lucrativos que atua por meio da parceria em projetos de estudos, pesquisas e capacita&ccedil;&atilde;o. A Unisol Brasil &ndash; Uni&atilde;o e Solidariedade das Cooperativas de Empreendimentos de Economia Social do Brasil. Campil, Cooapi, Coopix, Compai, Cooamep e Coomelva do Piau&iacute;; Casal de Pernambuco e Coopern&eacute;ctar do Cear&aacute;.</p> </div> <div align="justify"> <p>O primeiro encontro possibilitou a aproxima&ccedil;&atilde;o dos envolvidos e, ap&oacute;s a terceira reuni&atilde;o, o projeto estava completo: havia recursos financeiros, pessoas interessadas, estrat&eacute;gias e t&aacute;ticas definidas. O objetivo do projeto foi estruturar, integrar, monitorar e apoiar a implanta&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&otilde;es estrat&eacute;gicas que viabilizassem o neg&oacute;cio do mel na regi&atilde;o de Picos.</p> </div> <div align="justify"> <p>Dentre as a&ccedil;&otilde;es elencadas destacaram-se algumas: cria&ccedil;&atilde;o de um sistema de informa&ccedil;&atilde;o e gest&atilde;o; constru&ccedil;&atilde;o da home page do projeto; elabora&ccedil;&atilde;o de cartilhas; forma&ccedil;&atilde;o de multiplicadores, os Agentes de Desenvolvimento Rural (ADR); realiza&ccedil;&atilde;o de cursos e miss&otilde;es t&eacute;cnicas; recupera&ccedil;&atilde;o e preserva&ccedil;&atilde;o das pastagens ap&iacute;colas naturais; capacita&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica dos produtores; implanta&ccedil;&atilde;o de boas pr&aacute;ticas de fabrica&ccedil;&atilde;o; elabora&ccedil;&atilde;o de plano de comercializa&ccedil;&atilde;o de mel e derivados; implanta&ccedil;&atilde;odo selo do Servi&ccedil;o de Inspe&ccedil;&atilde;o Federal (SIF); apoio &agrave; exporta&ccedil;&atilde;o; estabelecimento de uma central de cooperativas de apicultores e de um entreposto (casa de mel).</p> </div> <div align="justify">Enfim, ocorreu um complexo de a&ccedil;&otilde;es que movimentaram muita gente, renderam muito suor e exigiram muita disciplina. A vis&atilde;o estrat&eacute;gica definida pelo grupo estava focada na melhoria da qualidade do mel, organiza&ccedil;&atilde;o dos produtores e aumento da produ&ccedil;&atilde;o e da produtividade.</div> <div align="justify"> <p>Para atender &agrave;s reivindica&ccedil;&otilde;es dos produtores, foi concebido um projeto ousado, que aumentou as vendas fracionadas e a rentabilidade dos apicultores. Essa a&ccedil;&atilde;o, dentro do projeto APIS, foi chamada de Casa APIS, empreendimento pioneiro na regi&atilde;o, de alta tecnologia, que melhorou bastante o desempenho dos produtores. Sitonho ficou empolgado com os resultados alcan&ccedil;ados e declarou: &ldquo;Vamos nos preparar para exportar o mel fracionado, agregando valor aos produtos&rdquo;.</p> </div> <div align="justify"> <p>Selo de qualidade emitido pelo Minist&eacute;rio da Agricultura, usado para demonstrar que o produto est&aacute; de acordo com as condi&ccedil;&otilde;es de higiene e sanit&aacute;rias.</p> <p>Essa estrat&eacute;gia de comercializa&ccedil;&atilde;o teve como objetivo melhorar a renda dos apicultores bem como o aumento da qualidade de vida. A id&eacute;ia foi construir uma cooperativa, no entorno das cooperativas existentes, que passou a centralizar o recebimento do mel, o que resultou no aumento da qualidade e da produtividade.</p> </div> <div align="justify"> <p>Inicialmente, foi necess&aacute;ria a realiza&ccedil;&atilde;o de um mapeamento da ind&uacute;stria do mel, que resultou em um trabalho dividido em duas etapas. A primeira foi um diagn&oacute;stico que englobou os munic&iacute;pios de Picos, Itain&oacute;polis, Valen&ccedil;a do Piau&iacute;, S&atilde;o Pedro do Piau&iacute; e Pio IX. Al&eacute;m disso, foram inclu&iacute;dos dois munic&iacute;pios, Horizonte (CE) e Trindade (PE). Durante o diagn&oacute;stico foram detectados in&uacute;meros problemas, principalmente na extra&ccedil;&atilde;o do mel, pois os apicultores n&atilde;o tinham os equipamentos necess&aacute;rios. Nessa situa&ccedil;&atilde;o, o produto era extra&iacute;do de forma artesanal, sem as ferramentas apropriadas e a c&eacute;u aberto, atitude essa que causava a contamina&ccedil;&atilde;o do mel. Quanto &agrave; comercializa&ccedil;&atilde;o, o diagn&oacute;stico constatou a falta de um canal de distribui&ccedil;&atilde;o estruturado, gerenciado pelos pr&oacute;prios produtores, al&eacute;m do pouco conhecimento sobre as oportunidades, amea&ccedil;as, for&ccedil;as e fraquezas dos mercados nacional e internacional.</p> <p>A segunda etapa do trabalho foi concretizada com um plano de neg&oacute;cio da Casa APIS, que estabeleceu principalmente a&ccedil;&otilde;es de marketing, tais como: an&aacute;lise do mercado (o setor, o tamanho do mercado, as oportunidade e amea&ccedil;as, a clientela, a segmenta&ccedil;&atilde;o, a concorr&ecirc;ncia, os fornecedores, etc.). Ap&oacute;s o conhecimento do mercado, foram estabelecidas as estrat&eacute;gias de marketing, a tecnologia, ciclo de vida do produto, vantagens competitivas, planos de pesquisa &amp; desenvolvimento, pre&ccedil;o, distribui&ccedil;&atilde;o (pra&ccedil;a), promo&ccedil;&atilde;o e propaganda, servi&ccedil;os ao cliente (de venda e p&oacute;s-venda), relacionamento com os clientes, etc.</p> </div> <div align="justify"> <p>Durante as discuss&otilde;es sobre a Casa APIS foram abordados v&aacute;rios aspectos: marketing, produ&ccedil;&atilde;o, finan&ccedil;as, etc. No que diz respeito &agrave; quest&atilde;o de marketing, a estrat&eacute;gia de comercializa&ccedil;&atilde;o definiu que o foco seria o mercado interno, com o direcionamento de 70% do volume da produ&ccedil;&atilde;o, ficando os 30% restantes destinados ao mercado externo. Essa decis&atilde;o foi tomada em virtude das oscila&ccedil;&otilde;es da pol&iacute;tica cambial brasileira, al&eacute;m das barreiras t&eacute;cnicas impostas &agrave; importa&ccedil;&atilde;o do produto por outros pa&iacute;ses.</p> <p>Em rela&ccedil;&atilde;o ao aspecto produ&ccedil;&atilde;o, ficaram definidas a metodologia de processo produtivo, a log&iacute;stica interna e a capacidade anual de produ&ccedil;&atilde;o, que foi estimada em 2 mil toneladas.</p> </div> <div align="justify"><strong>OS IMPACTOS CAUSADOS</strong></div> <div align="justify"> <p>Os efeitos decorrentes da iniciativa do Projeto APIS permitiram a forma&ccedil;&atilde;o de uma cultura voltada para o conhecimento e coopera&ccedil;&atilde;o que certamente contribuiu para a sustentabilidade do neg&oacute;cio. O impacto financeiro tamb&eacute;m foi vis&iacute;vel, uma vez que, em 2005, enquanto as exporta&ccedil;&otilde;es brasileiras de mel (14,4 mil toneladas) ca&iacute;ram 31%, o Piau&iacute; foi o &uacute;nico Estado a registrar um aumento de 43% no volume exportado, ou seja, 2,5 mil toneladas. A regi&atilde;o de Picos foi respons&aacute;vel por 60% da produ&ccedil;&atilde;o piauiense exportada naquele ano.</p> <p>Outra resposta favor&aacute;vel foi o impacto ambiental. Muitos produtores passaram a cuidar mais da natureza, a preservar a fauna e a flora, pois sabiam da import&acirc;ncia que a conserva&ccedil;&atilde;o das florestas traria para todos. Por isso, cuidar do meio ambiente na regi&atilde;o de Picos passou a ser obriga&ccedil;&atilde;o coletiva!</p> </div> <div align="justify">A globaliza&ccedil;&atilde;o da economia e o fortalecimento da Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial do Com&eacute;rcio (OMC) diminu&iacute;ram cada vez mais o espa&ccedil;o para a cria&ccedil;&atilde;o de barreiras tarif&aacute;rias. Por outro lado, os pa&iacute;ses importadores criaram um outro tipo de dificuldade: as barreiras t&eacute;cnicas ou n&atilde;o-tarif&aacute;rias, por meio das quais muitos desses pa&iacute;ses implementaram normas r&iacute;gidas a serem cumpridas pelos exportadores. Essas medidas dificultaram a entrada de produtos brasileiros e os apicultores mostraram atitude proativa na busca de solu&ccedil;&otilde;es estrat&eacute;gicas.</div> <div align="justify"> <p>Nesse sentido, as a&ccedil;&otilde;es desenvolvidas com os produtores da regi&atilde;o de Picos n&atilde;o ficaram limitadas apenas a treinamentos de sala de aula; as mudan&ccedil;as no processo produtivo tamb&eacute;m foram intensas.</p> <p>A introdu&ccedil;&atilde;o das metodologias do Programa Alimento Seguro (PAS), Boas Pr&aacute;ticas de Fabrica&ccedil;&atilde;o (BPF), Procedimentos Operacionais Padr&atilde;o (POP) e as An&aacute;lises de Perigos e Pontos Cr&iacute;ticos de Controle (APPCC) movimentaram os apicultores.</p> </div> <div align="justify"> <p>Como se n&atilde;o bastasse, cerca de 70 apicultores inseridos na Casa APIS fizeram um curso de certifica&ccedil;&atilde;o org&acirc;nica com foco no mercado internacional, precisamente os Estados Unidos e a Uni&atilde;o Europ&eacute;ia. O curso durou um ano e permitiu aos produtores se tornarem mais competitivos. O treinamento foi realizado pela Skall Internacional do Brasil, uma empresa da Holanda. Essa a&ccedil;&atilde;o foi de vanguarda, pois somente grandes empresas tiveram tal vis&atilde;o, haja vista ser um investimento caro e complexo.</p> <p>Para a gerente do projeto APIS na regi&atilde;o de Picos, Merces Dias, &ldquo;a certifica&ccedil;&atilde;o org&acirc;nica para os pequenos apicultores no Nordeste &eacute; uma a&ccedil;&atilde;o pioneira que agrega valor ao produto e que se deve &agrave;s alian&ccedil;as estrat&eacute;gicas feitas entre as entidades atuantes no setor ap&iacute;cola e as cooperativas representantes do p&uacute;blico-alvo&rdquo;.</p> </div> <div align="justify"> <p>Essas e outras a&ccedil;&otilde;es contribu&iacute;ram com a melhoria e o fortalecimento da apicultura do Piau&iacute;. Desde 2003 as exporta&ccedil;&otilde;es de mel do Estado vinham aumentando gradativamente. Em 2005 o Piau&iacute; figurou no ranking nacional dos exportadores de mel em terceiro lugar, com US$ 3 milh&otilde;es. Deixou para tr&aacute;s tradicionais exportadores das regi&otilde;es Sul e Sudeste como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran&aacute; e Minas Gerais.</p> <p>Os resultados obtidos na produ&ccedil;&atilde;o permitiram ao Piau&iacute; um lugar de destaque na industria do mel no Pa&iacute;s. Os Em fevereiro de 2006, Teresina, capital do Estado, sediou a primeira reuni&atilde;o do Programa de Avalia&ccedil;&atilde;o de Conformidade do Mel9. Esse processo de avalia&ccedil;&atilde;o prometia um desenvolvimento s&oacute;lido por parte dos produtores e parceiros envolvidos.</p> </div> <div align="justify"> <p>Conforme declarou o gerente de Carteira de Projeto da Apicultura do Sebrae/PI, Francisco Holanda: &ldquo;Somos uma refer&ecirc;ncia em todo o Pa&iacute;s e isso se deve a um esfor&ccedil;o conjunto com as entidades ap&iacute;colas&rdquo;. Isso &eacute; um reflexo do trabalho em coopera&ccedil;&atilde;o e com objetivo comum: o desenvolvimento e o crescimento do setor.</p> <p>Foi Sitonho o grande articulador desse processo; quem botou o p&eacute; na estrada e fez a coisa acontecer. Conseguiu incentivar todos os apicultores e acreditou na melhoria da competitividade do mel do Piau&iacute;, defendendo a certifica&ccedil;&atilde;o org&acirc;nica como uma vantagem competitiva. Al&eacute;m disso, foi</p> </div> <div align="justify">Sitonho quem buscou novas parcerias e resgatou outras, enfim, foi um l&iacute;der que em nenhum momento olhou apenas para si mesmo.</div> <div align="justify"> <p>Os recursos destinados para o projeto da Casa APIS foram otimizados e renderam bons resultados. Al&eacute;m da constru&ccedil;&atilde;o e da aquisi&ccedil;&atilde;o de m&aacute;quinas e equipamentos, foram, comprados um caminh&atilde;o, dois carros e duas motos. Com a articula&ccedil;&atilde;o da rede de relacionamentos de Sitonho, foi poss&iacute;vel obter descontos nas compras e fazer o seguro do caminh&atilde;o. Em paralelo &agrave; constru&ccedil;&atilde;o da Casa APIS, outras constru&ccedil;&otilde;es foram implementadas, como as casas de mel, ambiente adequado para receber as caixas de mel vindas dos api&aacute;rios. O projeto previa a constru&ccedil;&atilde;o de 20 casas de mel. Entretanto, com o poder de barganha que a Casa APIS ganhou e com a capacidade de articula&ccedil;&atilde;o de Sitonho, os recursos foram otimizados e o resultado final foi a constru&ccedil;&atilde;o de 24 casas de mel. Isto n&atilde;o comprometeu a qualidade das edifica&ccedil;&otilde;es, gerando uma rentabilidade de 20%, um lucro concreto.</p> <p>Enfim, o objetivo da Central de Cooperativas, ou Casa APIS, foi unir for&ccedil;as e esse objetivo foi conquistado. O grau de parceria e coopera&ccedil;&atilde;o foi tamanho que por vezes se confundiu com o de uma grande fam&iacute;lia, unida em todos os aspectos.</p> </div> <div align="justify"> <p>Em 2006, a apicultura destacava-se como uma atividade econ&ocirc;mica em expans&atilde;o no Brasil e no mundo. China e &Iacute;ndia se apresentavam como os pa&iacute;ses de melhor produtividade.</p> <p>Entretanto, o Brasil melhorou a qualidade do produto, possibilitando a entrada em mercados mais exigentes.</p> </div> <div align="justify"> <p>No Piau&iacute; a apicultura integrada e sustent&aacute;vel passou a proporcionar oportunidades de empreender a todos os que desejassem participar desse mercado. As a&ccedil;&otilde;es desenvolvidas pelos produtores e parceiros permitiram a constru&ccedil;&atilde;o de conhecimentos que foram transmitidos a todos os envolvidos com a produ&ccedil;&atilde;o do mel, fortalecendo o setor e a constru&ccedil;&atilde;o de uma cultura para coopera&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Os desafios futuros sinalizavam que ainda restava muito a fazer. Os produtores que participavam da Casa APIS tinham plena convic&ccedil;&atilde;o do que os aguardava, pois se tratava de um mercado mutante e exigente.</p> </div> <div align="justify"> <p>Os trabalhos desenvolvidos na regi&atilde;o de Picos demonstraram a viabilidade e sustentabilidade do neg&oacute;cio do mel, que saiu de uma situa&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica e insustent&aacute;vel.</p> <p>O consultor do Projeto APIS do Sebrae no Piau&iacute;, Laurielson Chaves, relatou: &ldquo;O que n&oacute;s t&iacute;nhamos era uma apicultura predat&oacute;ria, em que o apicultor se deslocava at&eacute; um enxame que estava em uma &aacute;rvore e ele retirava esse enxame e dava preju&iacute;zo ao meio ambiente, pois o apicultor queimava o enxame e destru&iacute;a-o e n&atilde;o era um mel que tinha qualidade&rdquo;.</p> </div> <div align="justify"> <p>A conscientiza&ccedil;&atilde;o dos produtores de mel e o grau de desenvolvimento, fruto das articula&ccedil;&otilde;es entre os parceiros, fomentou a cultura da coopera&ccedil;&atilde;o, caracter&iacute;stica marcante para o desenvolvimento de um ambiente favor&aacute;vel ao empreendedorismo, al&eacute;m da inser&ccedil;&atilde;o de novos conhecimentos, tais como alimenta&ccedil;&atilde;o de abelhas, cria&ccedil;&atilde;o de rainhas, manejo de colm&eacute;ias, implanta&ccedil;&atilde;o de novas tecnologias como as boas pr&aacute;ticas de fabrica&ccedil;&atilde;o, constru&ccedil;&atilde;o das 24 casas de mel e in&iacute;cio do processo de obten&ccedil;&atilde;o da certifica&ccedil;&atilde;o org&acirc;nica.</p> <p>Entretanto, ainda havia muito a se fazer, muitos desafios a enfrentar: manter o n&iacute;vel de coopera&ccedil;&atilde;o entre os parceiros e produtores; estimular o consumo do mel pelos consumidores internos; desenvolver estrat&eacute;gias para acessar novos mercados; preservar a fauna e a flora, permitindo a perman&ecirc;ncia das abelhas na regi&atilde;o, proporcionando aos atuais produtores e &agrave;s gera&ccedil;&otilde;es vindouras emprego, renda e um meio ambiente favor&aacute;vel, possibilitando a qualidade do mel e o crescimento sustent&aacute;vel dessa cadeia produtiva na regi&atilde;o de Picos.</p> <div><strong>AGRADECIMENTOS</strong></div> <div>Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/PI: Jos&eacute; Elias Tajra Filho e conselheiros.</div> <div>Diretoria Executiva do Sebrae/PI: Delano Rodrigues, Evandro Cosme Soares de</div> <div>Oliveira Rocha e Jos&eacute; Jesus Trabulo de Sousa J&uacute;nior.</div> <div>Ao senhor Francisco Holanda, ao consultor Laurielson Chaves Alencar, pelas informa&ccedil;&otilde;es</div> <div>prestadas, e ao professor Samuel Costa Filho, pela orienta&ccedil;&atilde;o na descri&ccedil;&atilde;o deste caso.</div> </div>
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