ALÉM DO FATO
Artigo: Diploma pra quê?
Bem, o fato é que, pela decisão do Supremo, a partir de agora qualquer sujeito que não der certo em sua profissão pode tentar o jornalismo.
ZÓZIMO TAVARES - 22/06/2009

<div align="justify"> <p>Pois &eacute;! Tamb&eacute;m vou meter a minha colher nesse cozid&atilde;o em que se transformou a decis&atilde;o do Supremo Tribunal Federal que acabou, na semana passada, por 8 votos a 1, com a exig&ecirc;ncia do canudo de jornalista para o exerc&iacute;cio da profiss&atilde;o. Muita gente aplaudiu o STF e muita gente, tamb&eacute;m, ficou emburrada com a sua decis&atilde;o, chorando sobre o leite derramado. Mas - atentai bem! - pelo que sei, s&oacute; quem est&aacute; se dando bem com leite derramado &eacute; Chico Buarque, que deu este t&iacute;tulo ao seu &uacute;ltimo livro e est&aacute; vendendo como &aacute;gua.</p> <p>O barulho em torno da queda do diploma n&atilde;o &eacute; para menos. O jornalista, embora n&atilde;o ofere&ccedil;a riscos &agrave; vida de terceiros, como bem enfatizou o presidente do Supremo, mexe com a vida de muita gente, para o bem ou para o mal. Da&iacute; a repercuss&atilde;o do assunto.</p> </div> <div align="justify"> <p>Mas eu pergunto: por que, para derrubar o diploma, o ministro Gilmar Mendes comparou a atividade do jornalista &agrave; de cozinheiro? Seria algum ato falho freudiano? &Eacute;! N&atilde;o &eacute; a Justi&ccedil;a que tem a mania de cozinhar em &quot;banho-maria&quot;? Ou ser&aacute; que &eacute; por que os jornalistas s&atilde;o dados a &quot;frituras&quot; de personalidades, especialmente daquelas que se desviam de suas fun&ccedil;&otilde;es? Ou ser&aacute;, ainda, que &eacute; por que os esc&acirc;ndalos pol&iacute;ticos brasileiros sempre acabam em pizza? N&atilde;o sei. Sinceramente, n&atilde;o sei.</p> <p>Penso, entretanto, que, nesse mingau, o ministro misturou alhos com bugalhos. Ou ser&aacute; que &eacute; por que o jornalista, quando n&atilde;o &eacute; insosso, carrega no sal e, por muitas vezes, deixa tamb&eacute;m o seu prato apimentado, provocando azia?</p> </div> <div align="justify"> <p>Pelo arrazoado do presidente do Supremo, desconfio que temos que cuidar urgentemente de novas regulamenta&ccedil;&otilde;es de outras profiss&otilde;es, aquelas que representam perigo &agrave; vida humana. Quem tem poder de causar riscos &agrave; vida alheia, no exerc&iacute;cio de sua profiss&atilde;o? M&eacute;dico? Engenheiro civil? Policial? Nem um desses tem mais poder de fogo, na quest&atilde;o da amea&ccedil;a &agrave; vida, quanto o piloto de avi&atilde;o!</p> <p>Bem, o fato &eacute; que, pela decis&atilde;o do Supremo, a partir de agora qualquer sujeito que n&atilde;o der certo em sua profiss&atilde;o pode tentar o jornalismo. E por que n&atilde;o? Mas n&atilde;o &eacute; preciso ir a outra faculdade, n&atilde;o. Pode sair direto do &quot;Brasil Alfabetizado&quot; para uma reda&ccedil;&atilde;o. Segundo o ministro, diploma n&atilde;o p&otilde;e talento em ningu&eacute;m. Nem, tira, n&atilde;o &eacute;?</p> </div> <div align="justify">Mas, c&aacute; pra n&oacute;s, diante de tudo isso, eu fico assim com a sensa&ccedil;&atilde;o de que, em pleno s&eacute;culo 21, na era da informa&ccedil;&atilde;o, jornalista de verdade, sem diploma, fica meio capenga. Ou meio capanga.</div> <div align="justify">&nbsp;</div>
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