<div align="justify">Estamos aqui, em praça pública, à sombra do tempo vivido e sob o olhar do tempo presente. Lambidos de esperanças no porvir. Olhos fixos no futuro. Desejosos de felicidade e de amor.<br />
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O momento é solene, porque tratamos de pátria perpetuada, fugindo do berço esplêndido, antevisora de futuros, do bem-comum e do bem-viver. No mínimo, alguma perspectiva para a nação em desenvolvimento, num mundo sem rosto, porque o capital não tem pátria, nem memórias altruístas.<br />
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Maior nação atual do idioma português, ressonam em nós as assacadilhas dos conquistadores sobre os gentios socavados de pau-brasil: Pindorama, pátria e família bastarda, explorada pela ganância de ouros e pratas. De antanho, e hoje com a cobiça dos Imperadores destes tempos a tentar dividir o mundo tupiniquim. De Amazônias e alguns alhures do mundo dos remanescentes ianomâmi. A cara deslavada da mentira atiça os Calabares e os Joaquins Silvérios de todos os tempos.<br />
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A Primavera – com os seus jacarandás em flor – adoça o tempo de viver e ratifica que estar vivo é uma condenação ao pensar para os privilegiados do senso de cultura universal. O brasileiro é um resistente...<br />
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À nossa volta o Homem e sua história. Nossos olhos esbugalhados de passados admiram o maior conjunto arquitetônico neoclássico da América Latina. O Teatro Sete de Abril, imponente, observa a tudo com o olho ciclópico das emoções.<br />
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A riqueza do trabalho humano bem administrado produziu o ciclo do charque e suas benesses materiais. Quase duzentos anos nos separam do auge desenvolvimentista do século XIX. E aqui chegamos com o rescaldo do incêndio e da bancarrota econômica dos anos 30 do século XX, na Zona Sul do Estado.<br />
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Mais uma vez fala o meu coração antigo. Emocionado, olhos mareados de ventos que sopram uma única vez e depois é o grande Nada do instante que já é passado.<br />
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– Digo, digo que digo, o que era mesmo que eu queria dizer?<br />
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Quiseram os meus conterrâneos que o poeta-soldado viesse às praças de infância e de adolescência saudar o objeto mais importante na dimensão humana, o esquálido e desajeitado objeto: o templo das memórias.<br />
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O livro como objeto; o livro como registro; o livro como mensagem. O livro é a tentativa de resistência contra a morte. Do homem e de sua condenação no tempo. Muitos viveram e morreram por idéias, por ideais construídos pela necessidade de compartilhar descobertas havidas com os seus botões.<br />
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– Enfiadas que nem piolho em costura! Diriam os que apenas ouvem a história proletária de pai pra filho ou os que vêem e ouvem a potência globalizante das mensagens televisivas das cadeias de comunicação social, mormente as tevês, e que vendem todo o tipo de bugigangas e indulgências.<br />
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O livro, num país em que a média de leitura é de apenas 3,8 livros/habitante ano, é um objeto desconhecido da maioria da população.<br />
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Estamos no Rio Grande, o Brasil meridional, em que o esforço de professores, ativistas culturais, autores e livreiros – 53 Eventos do Livro na capital e 35 Feiras do Livro aqui em Pelotas – a par de uma corrente desencadeadora de iniciativas culturais, produziram o índice de 5,6 livros/habitante/ano. E transitamos o início do terceiro milênio com a esperança de que o cidadão possa vir a ser dono de seu próprio destino, de sua memória e do registro de sua própria história.<br />
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Eu me sinto um instigador, um provocador a que se pense sobre tal ou qual. Quase nunca sobre coisa prática, porque esta sempre é o resultado da ação conseqüente de uma ideação. É na idéia em que assesto a minha seta. Honrado pela escolha, consciente de meu papel, trafego no olho da agulha.<br />
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O poeta, o intelectual, o ativista das palavras, tem o desafio de lidar com idéias, por isto trabalha com metáforas, com o centro desafiador da ação humana. Desencadeia a possibilidade de achar soluções. Trabalha-se com o mistério da Palavra.<br />
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Particularmente, divido a humanidade entre os que são e os que têm. Os que são mudam os destinos do mundo. Meros quixotescos lanceiros contra pás de moinhos confundidas como fossem dragões, tal construiu para a vida o cavaleiro Miguel de Cervantes, em seu Dom Quixote, há mais de trezentos anos. Aos que têm não interessam mudanças porque perdem privilégios.<br />
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Venhamos aos livros. O mundo não mudará enquanto idéias não criarem pernas para andar por si sós. Mas já é um começo de trajetória.<br />
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Salve Pelotas, minha terra! Que os tempos andejos e os seus cavaleiros andantes produzam homens e mulheres mais felizes de pátria, amores e famílias.<br />
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Salve os passageiros do Tempo! Estamos abrindo as portas ao Futuro! O livro pode não ser um portal para o dia seguinte. Mas é sementeira.<br />
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Colhamos os frutos nas bancas, nos balaios de ocasião, desçamos os neurônios das prateleiras do conformismo.<br />
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O livro é sempre um grande companheiro de estrada. E pode conter, também, o ouro, a prata e o petróleo.<br />
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Como escolher dirigentes lúcidos, se não a partir do conhecimento e da informação sobre os seus projetos? Quem não se acostumou com a leitura e a pesquisa desde muito cedo terá como discernir e agir no sentido do projeto compartilhado para o Coletivo?<br />
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Num país de Educação destroçada, há muito a ser feito em conjunto com o vetor Cultura. Por isto mesmo, os ativistas culturais são tipos humanos muito especiais.<br />
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Congeminemos a educação e a cultura em todos os nossos atos enquanto agentes lúcidos e reprodutivos. Produziremos, no mínimo, um homem ou uma mulher, ambos mais felizes. Porque este é o destino último da criatura humana: o ser feliz!<br />
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Que bom que os livros chegassem mais baratos às mãos dos necessitados da Palavra, da ficção e da informação científica. Num Brasil que lê diminutamente, as edições são pequenas e se tornam caras para o bolso do consumidor.<br />
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Mas, enfim, todo o ato objetivo de cidadania tem alto custo para o espírito ou para o bolso.<br />
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Adentremos ao universo da fantasia, das barracas livreiras e dos eventos lítero-culturais. Adentremos ao portal da Esperança e do Porvir.<br />
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Aprendamos com os livros: errar por ação, nunca por omissão! – para o livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008. http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1258247</div>
<div align="justify">Joaquim Moncks Publicado no Recanto das Letras em 31/10/2008</div>
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