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EDUCAÇÃO
STF: cotas raciais são aprovadas por 10 X 0
Supremo julga ação do DEM que questiona sistema de cota racial da UnB. Seis ministros votaram pela constitucionalidade das cotas raciais; faltam 3.
G1 - 27/04/2012

<div align="justify"> <p>Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou nesta quinta-feira (26) as universidades p&uacute;blicas brasileiras a adotar pol&iacute;ticas de reserva de vagas para garantir o acesso de negros ao ensino superior. O tribunal decidiu que as pol&iacute;ticas de cotas raciais em institui&ccedil;&otilde;es de ensino superior est&atilde;o de acordo com a Constitui&ccedil;&atilde;o e s&atilde;o necess&aacute;rias para corrigir o hist&oacute;rico de discrimina&ccedil;&atilde;o racial no Brasil.</p> <p>Em dois dias de julgamento, o tribunal discutiu a validade da pol&iacute;tica de cotas raciais adotada pela Universidade de Bras&iacute;lia (UnB), em 2004, que reserva por dez anos 20% das vagas do vestibular exclusivamente para negros e um n&uacute;mero anual de vagas para &iacute;ndios independentemente de vestibular. O DEM, autor da a&ccedil;&atilde;o contra as cotas raciais, acusou o sistema adotado pela institui&ccedil;&atilde;o de ensino, no qual uma banca analisa se o candidato &eacute; ou n&atilde;o negro, de criar uma esp&eacute;cie de &ldquo;tribunal racial&rdquo;.</p> </div> <div align="justify"> <p>Com o voto do ministro Gilmar Mendes, a maioria do plen&aacute;rio do Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestou a favor da pol&iacute;tica de cotas raciais na Universidade de Bras&iacute;lia. Caso esse entendimento seja mantido - os ministros ainda podem mudar o voto at&eacute; o fim do julgamento -, o Supremo vai validar o sistema de reserva de vagas em institui&ccedil;&otilde;es de ensino superior para negros e ind&iacute;genas.</p> <p>Dos dez ministros que analisam o tema, sete votaram a favor da legalidade das cotas raciais. O relator Ricardo Lewandowski foi acompanhado pelos ministros Luiz Fux, Rosa Weber, C&aacute;rmen L&uacute;cia, Joaquim Barbosa e Cezar Peluso. Aind&atilde;o v&atilde;o votar Gilmar Mendes, Celso de Mello, Marco Aur&eacute;lio e o presidente da corte, Ayres Britto. Dias Toffoli n&atilde;o participa do julgamento porque elaborou parecer a favor das cotas quando era advogado-geral da Uni&atilde;o.</p> </div> <div align="justify"> <p>De acordo com dados da Advocacia-Geral da Uni&atilde;o (AGU), 13 universidades brasileiras possuem pol&iacute;ticas de cotas raciais e outras 20 combinam o crit&eacute;rio de ra&ccedil;a com a quest&atilde;o social para fazer a sele&ccedil;&atilde;o dos candidatos. A decis&atilde;o do STF n&atilde;o pro&iacute;be outras a&ccedil;&otilde;es em rela&ccedil;&atilde;o a cotas para ingresso no ensino superior, porque as universidades t&ecirc;m autonomia para definir suas pol&iacute;ticas.</p> <p>O julgamento foi iniciado nesta quarta-feira (25) com as manifesta&ccedil;&otilde;es dos advogados das partes e de representantes de entidades interessadas no assunto. No in&iacute;cio da noite a sess&atilde;o foi interrompida e retomada nesta quarta. Est&atilde;o na pauta outras duas a&ccedil;&otilde;es que abordam cotas raciais combinadas com o crit&eacute;rio de o estudante vir de escola p&uacute;blica.</p> </div> <div align="justify"> <p>A maioria dos ministros da Corte acompanhou o voto do relator da a&ccedil;&atilde;o, ministro Ricardo Lewandowski, pela validade dos sistemas de reserva de vagas com base em crit&eacute;rios de ra&ccedil;a.</p> <p>Para o relator, a pol&iacute;tica de cotas da UnB &quot;n&atilde;o se mostra desproporcional ou irrazo&aacute;vel e &eacute; compat&iacute;vel com a Constitui&ccedil;&atilde;o&quot;. Ele afirmou que o sistema utilizado, que t&ecirc;m per&iacute;odo de vig&ecirc;ncia de 10 anos, pode ser usado como &quot;modelo&quot; para outras universidades.</p> </div> <div align="justify"> <p>O modelo que o Supremo tenta estabelecer, se o meu voto for prevalente, &eacute; esse modelo de que n&atilde;o &eacute; uma benesse que se concede de forma permanente, mas apenas uma a&ccedil;&atilde;o estatal que visa superar alguma desigualdade hist&oacute;rica enquanto ela perdurar&quot;, destacou o relator ap&oacute;s o julgamento.</p> <p>Nesta quinta, o julgamento recome&ccedil;ou com o voto do ministro Luiz Fux, que a Constitui&ccedil;&atilde;o contempla a imposi&ccedil;&atilde;o do crit&eacute;rio de ra&ccedil;a para admiss&atilde;o em universidade p&uacute;blica. Para ele, o pa&iacute;s precisa fazer mais do que vedar a discrimina&ccedil;&atilde;o, implementando pol&iacute;ticas que levem &agrave; integra&ccedil;&atilde;o social dos negros.</p> </div> <div align="justify"> <p>&ldquo;A constru&ccedil;&atilde;o de uma sociedade justa e solid&aacute;ria imp&otilde;e a toda coletividade a repara&ccedil;&atilde;o de danos pret&eacute;ritos perpetrados por nossos antepassados adimplindo obriga&ccedil;&otilde;es jur&iacute;dicas&rdquo;, disse Fux.</p> <p>O voto do ministro foi interrompido por um manifestante ind&iacute;gena da etnia guarani que precisou ser expulso do plen&aacute;rio pelos seguran&ccedil;as do STF. O &iacute;ndio Araju Sepeti queria que os ind&iacute;genas fossem citados pelo ministro Fux em seu voto. A pol&iacute;tica de cotas da UnB, que &eacute; tema do julgamento, inclui a reserva de 20 vagas anuais a ind&iacute;genas, que n&atilde;o precisam fazer o vestibular tradicional.</p> </div> <div align="justify"> <p>&ldquo;Voc&ecirc;s violam os direitos de todos e n&atilde;o respeitam a Constitui&ccedil;&atilde;o. O Brasil &eacute; composto de tr&ecirc;s ra&ccedil;as: ra&ccedil;a ind&iacute;gena, ra&ccedil;a branca e ra&ccedil;a negra&quot;, disse Sepeti ao ser contido por seguran&ccedil;as do Supremo que o levaram para fora das grades que separam a sede do tribunal da Pra&ccedil;a dos Tr&ecirc;s Poderes, em Bras&iacute;lia.</p> <p><strong>&Uacute;nico ministro negro do STF</strong></p> </div> <div align="justify">Joaquim Barbosa, &uacute;nico ministro negro do STF, acompanhou o voto do relator e ressaltou a import&acirc;ncia das a&ccedil;&otilde;es afirmativas para viabilizar &ldquo;harmonia e paz social&rdquo;. Ele citou exemplo dos Estados Unidos que se tornaram &ldquo;o pa&iacute;s l&iacute;der do mundo livre&rdquo;, ap&oacute;s derrubar a pol&iacute;tica de segrega&ccedil;&atilde;o racial.</div> <div align="justify"> <p>&ldquo;A&ccedil;&otilde;es afirmativas se definem como pol&iacute;ticas publicas voltadas a concretiza&ccedil;&atilde;o do princ&iacute;pios constitucional da igualdade material a neutraliza&ccedil;&atilde;o dos efeitos perversos da discrimina&ccedil;&atilde;o racial, de g&ecirc;nero, de idade, de origem&rdquo;, disse Barbosa.</p> </div> <div align="justify">Tamb&eacute;m acompanharam o voto do relator os ministros Cezar Peluso, C&aacute;rmen L&uacute;cia e Rosa Weber.</div> <div align="justify"> <p><strong>Contra e a favor das cotas</strong></p> <p>No primeiro dia do julgamento, a advogada do DEM, Roberta Kauffman, apresentou argumentos contra o sistema de cotas da UnB. Para ela, a sele&ccedil;&atilde;o de quem teria direito &agrave;s cotas na UnB &eacute; feitas com base em &ldquo;crit&eacute;rios m&aacute;gicos e m&iacute;sticos&rdquo; e lembrou o caso dos irm&atilde;os g&ecirc;meos univitelinos, Alex e Alan Teixeira da Cunha. Eles se inscreveram no vestibular, em 2007, e, depois de analisadas fotos dos dois, Alan foi aceito na sele&ccedil;&atilde;o das cotas e Alex n&atilde;o. Depois, a UnB voltou atr&aacute;s.</p> </div> <div align="justify"> <p>&ldquo;A imposi&ccedil;&atilde;o de um modelo de estado racializado, por &oacute;bvio, traz consequ&ecirc;ncias perversas para forma&ccedil;&atilde;o da identidade de uma na&ccedil;&atilde;o. [...] N&atilde;o existe racismo bom. N&atilde;o existe racismo politicamente correto. Todo o racismo &eacute; perverso e precisa ser evitado&rdquo;, disse a advogada.</p> <p>A defesa da UnB argumentou que o sistema de cotas raciais busca corrigir a falta de acesso dos negros &agrave; universidade. Segundo a advogada Indira Quaresma, que representou a institui&ccedil;&atilde;o, os negros foram &ldquo;alijados&rdquo; de riquezas econ&ocirc;micas e intelectuais ao longo da hist&oacute;ria. Para ela, a aus&ecirc;ncia de negros nas universidade refor&ccedil;a a segrega&ccedil;&atilde;o racial.</p> </div> <div align="justify"> <p>&ldquo;A UnB tira-nos, n&oacute;s negros, dos campos de concentra&ccedil;&atilde;o da exclus&atilde;o e coloca-nos nas universidades. [...] Sistema de cotas &eacute; belo, necess&aacute;rio, distributivo, pois objetiva repartir no presente a possibilidade de um futuro melhor&rdquo;, afirmou a advogada da UnB.</p> <p>A validade das cotas raciais como pol&iacute;tica afirmativa de inclus&atilde;o dos negros foi defendida tamb&eacute;m pelo advogado-geral da Uni&atilde;o, Lu&iacute;s In&aacute;cio de Lucena Adams e pela vice-procuradora-geral, Deborah Duprat. Para eles, o racismo &eacute; um tra&ccedil;o presente na cultura brasileira e que precisa ser enfrentado.</p> </div> <div align="justify"> <p>Al&eacute;m dos representantes da UnB, do DEM e da Uni&atilde;o, outros 10 advogados ocuparam a tribuna do STF para defender suas posi&ccedil;&otilde;es contra ou a favor das pol&iacute;ticas de reserva de vagas em universidades tendo a ra&ccedil;a como crit&eacute;rio.</p> <p>A maioria das entidades participou de audi&ecirc;ncia p&uacute;blica realizadas pelo Supremo, em mar&ccedil;o de 2010, para discutir o tema. As opini&otilde;es se dividem entre os que defendem e criticam a ado&ccedil;&atilde;o da quest&atilde;o racial como crit&eacute;rio em detrimento de outros fatores, como a renda do candidato.</p> </div>
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